sábado, 30 de junho de 2007

Descobrimento e formação do Estado da Bahia


Segundo os mais diversos autores de História do Brasil, o descobrimento de nosso país foi mais um acontecimento, certamente planejado, da expansão marítima realizada por países europeus de grande poder como Portugal e Espanha além dos Países Baixos e da França.

Segundo Tavares (1987) em março de 1500 partiu de Portugal a esquadra comandada pelo fidalgo Pedro Álvares Cabral, em direção a Índia e, que desviando de sua rota, ao entardecer do dia 22 de abril atingiu um ponto do litoral sul do atual Estado da Bahia, hoje chamado Bahia de Cabrália. Segundo o mesmo autor, o efetivo descobrimento das terras baianas, mais especificamente da Bahia de Todos os Santos, que marca o descobrimento do estado, deu-se no dia 1º de novembro de 1501, sendo responsável pelo evento, a esquadra pilotada por Américo Vespúcci que partiu de Lisboa em 10 de maio de 1501. A maior prova da veracidade desta data é o trecho da carta de Vespúcci à Pedro Soderini, a respeito da viagem de 1503, onde se refere à viagem de 1501: "...porque tínhamos um regimento d'El-Rei ordenado que, se qualquer dos navios se extraviasse da frota ou do seu capitão, fosse ter à terra descoberta (na viagem passada), a um ponto que pusemos o nome de Baía de Todos os Santos..."


Desde então, a Bahia passou a constar nos mapas das terras do Brasil, mais especificamente, de sua costa leste. Também passou a ser seguidamente visitada por armadas portuguesas que iam para a Índia, servindo de local para renovação de água potável e conserto de embarcações, entre outros. Esta esquadra foi também responsável pela constatação da existência de pau-brasil em grande quantidade, produto já conhecido pelos europeus cujo corante extraído já era usado nas manufaturas têxteis da Itália, França e Flandres. A exploração desta matéria-prima tornou-se a principal atração das novas terras, atraindo não só os comerciantes portugueses, mas também de outros povos europeus, principalmente os franceses que mantinham largo contrabando das toras de pau-brasil para a Europa. Várias outras expedições sucederam-se às já citadas trazendo, aos poucos, os portugueses interessados nas novas terras.


Segundo Tavares (1987) a partir da primeira metade do século XVI o território hoje chamado Estado da Bahia foi conquistado, colonizado e povoado lentamente em por expedições chamadas entradas que partiam de Salvador, porto Seguro e Ilhéus em direção ao interior do estado. As entradas eram em tudo semelhantes às bandeiras de São Paulo mas, foram menos valorizadas que estas. Saíam do litoral e chegaram ao norte/nordeste, hoje Minas Gerais, Piauí e Maranhão, subindo os rios São Francisco, Paraguaçu, Grande, Verde e das Contas. Chegaram também ao sul/sudeste navegando o Jequitinhonha, Pardo, Doce e Mucuri.


Tanto no século XVI como no XVII tais expedições foram de grande importância para o inicial reconhecimento da geografia, riqueza mineral, hídrica, florística e faunística do estado, ainda que seu objetivo principal fosse a ocupação e o reconhecimento puro das terras. Também forneceram preciosa documentação em defesa dos limites da Bahia com os estados vizinhos.

Holandeses

Dentre os europeus que contribuíram e influenciaram a formação do estado da Bahia, destacam-se os holandeses, Em 1624, durante o governo de D.Diogo de Mendonça Furtado, foi invadida pelos holandeses, vencendo a resistência dos cidadãos que abandonaram a cidade. Em 1º de maio de 1625, após diversas batalhas e estando os holandeses isolados e cercados, a chegada da ajuda dos espanhóis determinou a saída dos holandeses da Bahia.
Os holandeses tentaram em outras ocasiões retomar a cidade do Salvador sem sucesso, o que tornou a Bahia uma referencia na resistência da colônia aos invasores holandeses que obtiveram sucesso em Recife.

Grupos Étnicos Formadores da População Brasileira


A população baiana surgiu da mistura de três grupos humanos: o índio que já habitava o território milhares de anos antes da chegada dos Portugueses, o africano que foi trazido contra vontade da África e os Portugueses que vieram para colonizar e explorar as novas terras.




Estes grupos não se mantiveram física ou culturalmente separados e após um curto espaço de tempo, a sociedade em formação já possuía tipos caracteristicamente brasileiros resultantes da mistura dos grupos iniciais. O mulato (negro e branco), o cafuzo (negro e índio) e o caboclo (branco e índio) e o resultado de sua mistura, tornaram-se cada vez mais numerosos numa população dominada pelos preconceituosos brancos Portugueses que detinham o poder financeiro e político da colônia.


Cada grupo contribuiu de uma maneira para a modelagem da sociedade em formação dando-lhe características próprias em aspectos físicos e culturais.


Índios


Segundo Ribeiro (1997), ao chegar à Bahia, o primeiro grupo indígena com o qual os europeus tiveram contato foi o tupiniquim, da família tupinambá, tronco tupi-guarani que já habitava, quase totalmente o litoral de todo o território baiano. Segundo Soares apud Celene Fonseca, o litoral baiano foi denominado pelos Tapuias desalojados pelos Tupinambás. Estes chegaram a costa por volta de 100-1200 d.C., ou seja, 300 a 500 anos antes dos Portugueses. Alencar et all afirma que pesquisas permitem dizer que desde 8000 a.C. grupos humanos habitam a região que é hoje o Brasil, vindos da Ásia ou Europa. No entanto, pouco se conhece sobre a vida dos habitantes anteriores à chegada dos Europeus, por isso toda a história do Brasil foi criada pelos colonizadores e tem uma visão eurocêntrica da vida. Mesmo a denominação ÍNDIO dada aos povos que habitavam as terras do Brasil é equivocado e decorre da errada idéia dos espanhóis que, anteriormente, pensavam ter chegado à Índia, ao chegar à América Central.


Além do litoral, também outros grupos indígenas foram logo conhecidos pelos europeus. aimorés e patachós habitavam as terras próximas ao Espírito Santo e Minas Gerais. Entre o Rio Prado e o Rio de Contas estavam os camacãs, nagoiós, gongoiós e crancaiós. Os famosos maracás ocupavam o vale do Rio Paraguaçu e Serra Sincorá. O Nordeste do estado era ocupado pelos cariris. No Rio São Francisco encontravam-se os anaiós e caiapós. Por fim, chicriabás e acroás habitavam a fronteira da Bahia com Goiás.


Dentre as mais diversas contribuições dos povos indígenas para a formação do novo povo brasileiro está o habito de tomar banho todos os dias, o uso da mandioca na culinária, a diversificação das bebidas destiladas, o uso de utensílios de barro e a prática da queimada (coivara) hoje prejudicial à conservação do solo quando praticada em extensas faixas de terra. Os índios foram de fundamental importância para o reconhecimento das terras e das riquezas do Brasil fazendo todo tipo de trabalhos para os portugueses como mostrar fontes de madeira ou de metais preciosos até carregar toda espécie de produtos até os navios. Além disso, foram fundamentais na construção e manutenção da cidade do Salvador sempre com a intermediação de Caramuru, europeu com o qual tinham grande aproximação. Com a crescente escravização dos índios em nome da Coroa e da propagação do cristianismo, os grupos antes simpáticos aos europeus, passaram a se impor ao trabalho tornando difícil o controle e uso dos povos nativos, também chamados negros pelos europeus.

Negros

A chegada dos primeiros negros à Bahia deu-se próximo aos anos de 1549 e 1550, substituindo o trabalho forçado de índios escravizados, inicialmente nos engenhos e plantações e posteriormente até nas casas grandes, baseando toda a economia do estado. Na verdade, não foi por falta de mão-de-obra que a escravização alcançou as colônias portuguesas, mas por exigência do capitalismo comercial europeu que via no negro cara e lucrativa mercadoria. As colônias como o Brasil eram obrigadas a comprar escravos das metrópoles européias que ganhavam muito dinheiro com o tráfico de escravos negros vindos de toda a África. Para a Bahia foram vendidos africanos das diversas áreas e nações desde o atual Senegal à atual Angola, na costa ocidental, à costa oriental da atual Moçambique à atual Etiópia, passando pelos povos do Congo, Niger e Benin. Pela língua foram identificadas as nações yoruba, ewês, fulás, tapas, ardas, calabares e aussás que falavam árabe e talvez fossem religiosos do Corão.


Segundo Luis Viana Filho apud Tavares existiu uma sucessão no de povos ou nações trazidos para a Bahia o que permitiu a organização dos seguintes ciclos: I-Ciclo da Guiné (XVI); II-Ciclo de Angola (XVII); III-Ciclo da Costa da Mina (XVII); IV-Última fase - da ilegalidade (XIX).Oficialmente o último desembarque de escravos africanos para a Bahia ocorreu em 1852, na Pontilha, Ilha de Itaparica.


As incontáveis importantes contribuições dos negros para a formação do povo brasileiro e dos seus costumes estão fortemente presentes no dia-a-dia da população ao longo destes 500 anos. A religiosidade africana misturada à religião católica formou, no estado da Bahia, a mais brasileira das formas de reverenciar deuses e santos. O famoso sincretismo religioso é uma das características do estado que teve sua origem nas senzalas quando em vez de aceitar as determinações católicas para a fé, os negros as adaptaram às suas próprias crenças. A culinária baiana é quase que totalmente dominada pelos temperos africanos, ainda que tenham os europeus portugueses rejeitado por algum tempo o sabor forte dos condimentos. Os pratos típicos do estado apresentam sempre ingredientes como azeite de dendê, camarão seco, amendoim e outros. As danças e músicas, a forma de comemorar, de vestir e outras mais especificamente baianas tem grande influencia dos rituais religiosos e lutas negras lentamente assimiladas pela população em geral desde o momento em que foram trazidos para o Brasil.


Assim como os índios, os negros resistiram e lutaram muito contra a escravidão à qual eram submetidos no Brasil. A mais notável e organizada forma de luta foi, sem dúvida a formação dos Quilombos, que se constituíam em pequenas e organizadas cidades auto-suficientes na maioria dos aspectos, fundadas pelos negros que conseguiam fugir das senzalas, dos engenhos e plantações em todo o estado. Exemplos importantes são os quilombos do Rio Vermelho conhecido no início do século XVII , Cabula de 1807 e Buraco do Tatu formado em 1744, os três na área ocupada hoje por Salvador atacados diversas vezes. Também no interior do estado formaram-se diversos quilombos como os de Muritiba e Maragogipe descobertos em 1713, os de Nazaré e Santo Amaro encontrados em 1801 e muitos outros os quais podem ser melhor conhecidos através do trabalho de Pedreira (1973). Embora mais conhecidos, os quilombos não foram a única forma de resistência dos negros africanos no Brasil e, mais especificamente na Bahia. Os registros históricos falam de várias manifestações principalmente no século XIX como a revolta dos Aussás em 1807, dos escravos em Itapuã e outras armações em 1813, insurreição da Vila de São Mateus em 1822, todas severamente reprimidas, mas que demonstraram a insatisfação e a revolta dos negros escravos que lutavam contra a situação de injustiça em que viviam.

Europeus

O Português foram, sem dúvida, o europeu que mais contribuiu para a formação do povo baiano. Segundo Carlos Ott apud Tavares a origem dos portugueses habitantes da Bahia no século XVI é, em ordem crescente de quantidade: Entre-Douro-e-Moinho, Trás-os-Montes, Beira, Estremadura, Alentejo, Algarve, Ilhas, na maioria homens do campo e de artes manuais. Além dos Portugueses, os Franceses, os Holandeses e por fim Ingleses influenciaram de alguma forma a população em formação, já que todos mantiveram estreito contato com o povo brasileiro que nascia da miscigenação entre os chamados três grupos humanos: branco, índio e negro. Estes últimos, diferentes dos Portugueses passavam pela Bahia em viagem comerciais, principalmente de contrabando de escravos e matérias-primas como o pau-brasil.


Dentre os mais conhecidos Portugueses que contribuíram para o desbravamento e exploração das terras baianas está Diogo Álvares, o Caramuru. Segundo alguns autores, Diogo Álvares saiu do Norte de Portugal e foi náufrago de uma embarcação francesa para a qual trabalhava, nas proximidades do Largo da Mariquita, Rio Vermelho, por volta de 1509 ou 1511. Recebeu este nome, diz a lenda, por ter saído entre as pedras, coberto de limo na frente de um grupo de índios que notou semelhanças entre o Português e o peixe. Diz ainda a lenda que, graças a um tiro dado para o alto, Caramuru escapou de ser devorado pelos Tupinambás e conquistou seu respeito e aceitação


Caramuru foi o primeiro europeu a conviver com os índios aprendendo sua língua e seus hábitos, por isso, foi importante ponte entre os índios e os colonizadores servindo mesmo como intérprete e pacificador. Convenceu os índios a ajudar na construção das vilas como a Ponta do Pedrão (hoje Forte e Farol da Barra) onde viveu e uniu-se a algumas índias incluindo a Catarina Paraguaçu, com quem se casou e teve filhos legítimos e onde se instalaram outros europeus como o próprio Tomé de Souza, antes da construção de Salvador. A construção da Cidade de Salvador foi viabilizada pela ajuda dos mesmos índios que conseguiram material para a construção, carregaram-no até o local escolhido e edificaram a cidade.


Por defender interesses dos índios ou próprios contra a exploração dos colonizadores ou, como afirmam alguns autores por sua ligação com os Franceses, Caramuru desentendeu-se seriamente com os representantes de Portugal e morreu em 1557 sem ter sido reconhecido pelo governo português como fundamental elemento para a colonização do Brasil.


Dos Portugueses os baianos, como todos os brasileiros, herdaram a forma de sociedade patriarcal. O Português criou, segundo Tavares (1987) a Bahia agrária, mercantil e escravocrata voltada para as necessidades do capitalismo comercial que dominava o mundo dito civilizado. As cidades herdaram a arquitetura da moda em Portugal dando ares europeus à cidade de Salvador. Também a música, a religião Católica, a estrutura familiar com base no casamento, a prática da monocultura e outras características mais.

As Capitanias Hereditárias


O momento da descoberta da Bahia e do Brasil era, para Portugal, de imensa prosperidade no comércio estabelecido com o Oriente, principalmente com a Índia. Este fator aliado ao pouco conhecimento sobre as riquezas naturais do Brasil promoveu o total descaso da coroa portuguesa em relação à terra americana. No entanto, na quarta década do século XVI, Portugal perdeu posições no comércio com a África e nos portos índicos entrando em séria crise financeira. Ao mesmo tempo os espanhóis encontraram fontes de metais e pedras preciosas nas terras americanas e outros europeus demonstraram grande interesse pelo Brasil, principalmente os Franceses que eram cada vez mais numerosos nas terras entre Pernambuco e Espírito Santo.



Segundo alguns autores como Alencar (1981) o Brasil passou a ser primeiro, um novo ponto para o comércio com Portugal caracterizando-se como produtor de matéria-prima para venda e comprador de matéria manufaturada, suprindo o espaço perdido no comércio do Oriente. Além disso, havia a necessidade de efetiva ocupação e posse das terras que afastaria os Franceses da potencialmente lucrativa colônia. Segundo o autor em 1530 uma nova expedição foi enviada para o Brasil para, principalmente, lançar fundamentos da ocupação efetiva da terra e estabelecer núcleos de povoamento.



Por volta de 1534 as terras do Brasil começam a ser ocupadas, permitindo posse efetiva, domínio e controle da terra e da exploração dos recursos naturais do Brasil contra as investidas, principalmente dos Franceses, repetindo a experiência de outras colônias portuguesas, D. João III, rei de Portugal, passou a assinar as primeiras cartas de doação das Capitanias Hereditárias. Tais cartas eram documentos legais de doação de terras e títulos de capitão e governador a cada beneficiado. Uma Carta de Doação concedia ao donatário uma propriedade de 10 léguas de terra na costa, isenta de tributos exceto o dízimo. sobre o restante dos 50 a 100 léguas em direção ao interior do continente, possuía apenas a posse. O donatário era privilegiado na montagem de engenhos, com a venda de 24 índios por ano para Portugal, garantia de redízima de vendas pertencentes à Coroa, vintena do pau-brasil e dízima do quinto real sobre metais. Um Foral definia como sendo do donatário a propriedade dos produtos do solo e a defesa da terra. Para a Coroa ficavam os produtos do subsolo, mata e mar. O donatário tinha o dever de conceder sesmaria a quem solicitasse e o direito de comercializar armas e mantimentos para o uso das capitanias apenas, é claro, com a metrópole.


A preocupação com a ocupação das terras, no entanto, demonstrava apenas que Portugal preocupava-se com a garantia da posterior utilização comercial e da exploração dos recursos. Mas nunca chegou a caracterizar uma preocupação com a formação de uma nova nação, tal qual aconteceu na América do Norte, mais especificamente com as terras Inglesas que originaram os Estados Unidos da América.


No território que hoje é o estado da Bahia foram formadas entre os anos de 1534 e 1566 cinco capitanias hereditárias mantidas até a segunda metade do século XVIII. São elas:


Bahia - doada em 5 de abril de 1534 a Francisco Pereira Coutinho;
Porto Seguro - doada em 27 de maio de 1534 a Pero do Campo Tourinho;
Ilhéus - doada em 26 de julho de 1534 a Jorge de Figueiredo Corrêa;
Paraguaçu ou Recôncavo - doada em 29 de março de 1566 a Álvaro da Costa;
Ilhas de Itaparica e Tamarandiva - doada em 15 de março de 1558 a D. Antonio de Athayde.


BAHIA
A Capitania de Francisco Pereira Coutinho


Era formada por 50 léguas de terra entre a margem direita do Rio São Francisco e a Ponta do Padrão, hoje Forte e Farol da Barra.


Pereira Coutinho estabeleceu-se em sua capitania em 1536 na região da Enseada da Barra, onde construiu a Vila do Pereira, hoje Santo Antonio da Barra, instalando parentes, amigos e colonos que trouxe com ele. Produziu algodão e cana construindo dois engenhos de açúcar. Teve sérios problemas com os índios e com seus empregados abandonando por algum tempo suas terras.
Com a morte do donatário após um naufrágio quando se tornou prisioneiro dos tupinambás, a capitania foi revertida para a Coroa e, em 1548, transformada em sede do governo-geral das terras do Brasil.


PORTO SEGURO
A Capitania de Pêro do Campo Tourinho


Formada por 60 léguas de terra, limitava-se pela margem direita do Rio Jequitinhonha e margem esquerda do Rio Doce.


Junto aos filhos que trouxe consigo de Portugal, fundou oito vilas sendo Porto seguro a Principal. Explorou e comercializou o pau-brasil para a Europa por meio de Portugal, único país com o qual as capitanias podiam comercializar.


Após sua morte, tendo a capitania passado por vários herdeiros, foi confiscada pela Coroa e incorporada à da Bahia, sendo o Marquês de Gouveia o seu último donatário.


ILHÉUS
A Capitania de Jorge de Figueiredo Corrêa


Data de 26 de junho de 1534 a doação desta capitania, sendo conhecido o Foral de 1º de abril de 1535. Contando 50 léguas, a capitania tem como limites a Ponta do Padrão e a margem esquerda do Rio Jequitinhonha.


Segundo Bahiatursa Apostilas, o Morro de são Paulo foi a primeira vila fundada na chegada do donatário às terras doadas sendo só depois fundada a Vila de São Jorge dos Ilhéus. Jorge de Figueiredo Corrêa produziu açúcar já no início da ocupação de suas terras e chegou a construir nove engenhos de açúcar no século XVI.


Foi incorporada à capitania da Bahia em 1754, depois de passar à propriedade dos Rezende e Castro.


ITAPARICA E TAMARANDIVA
A Capitania do Primeiro Conde de Castanheira


Deixando em 1558 a condição de sesmaria de Dona Violante da Câmara, mãe do Conde de Castanheira, para capitania, deixaram também as ilhas de pertencerem à Capitania da Bahia nesta mesma data.


Por volta de 1560, segundo Osório (1979) foi fundado o povoado de Vera Cruz, com o início da Construção da Igreja de Vera Cruz, uma das mais antigas do país.
A capitania pertenceu a diversos herdeiros de Dona Violante sendo, em 6 de abril de 1763, incorporada à capitania da Bahia.


PARAGUAÇU OU RECÔNCAVO
A Capitania de Álvaro da Costa


A sesmaria do Paraguaçu foi transformada em capitania através da carta de doação datada de 1566, compondo-se das terras que vão da Barra do Rio Peroassú, hoje Paraguaçu, até a Barra do Rio Jaguaripe.


Segundo Brandão (1998), a capitania foi produtora, inicialmente, de açúcar e, posteriormente, de fumo e pertencia a D. José da Costa quando foi comprada pela Coroa e incorporada à Capitania da Bahia .

Política

Durante quase 50 anos, as terras do Brasil permaneceram administradas à distância, não havendo no país um cargo específico para o controle político das terras brasileiras .

Em 1549 foi finalmente criado o Governo-Geral com a chegada de Tomé de Souza e a construção de Salvador, a sede do Governo. Contrariando a opinião de alguns autores, Tavares (1987) afirma que o Governo-Geral não foi criado para substituir as Capitanias, mas para conservá-las. Portanto, não havia substituição, mas sim a criação de um centro político, administrativo, militar, judiciário e fiscal.

Segundo regimentos próprios o Governo-Geral deveria promover a segurança militar no litoral, administrar a cidade de Salvador, cobrar dízimas e redízima devidas ao rei em todas as Capitanias, fiscalizar os deveres dos donatários e dos colonos para com o rei, julgar os delitos civis e penais. Segundo Alencar (1981) o Governo-Geral deveria combater tribos rebeladas aliando-se a outras e promovendo adversidades entre elas, realizar entradas em busca de riquezas minerais, desenvolver a construção naval e estimular a catequese.

Para o Governo-Geral foram criados os cargos de Governador-Geral, Ouvidor-Geral, Provedor-Mor da Fazenda e Capitão-Mor da Costa. Também foi instituída a Casa da Câmara composta de membros indiretamente eleitos ou nomeados. Em 1646 passou a denominar-se Senado da Câmara.
A organização política do Brasil se deu, inicialmente, em três sucessivos Governos-Gerais, que foram:

Primeiro Governo

Em 7 de janeiro de 1549 foi nomeado o fidalgo Tomé de Souza para exercer por três anos a função de Governador-Geral do Brasil com os títulos de Governador das Capitanias e terras da Bahia e Governador das Capitanias e terras do Brasil. Com ele vieram em torno de 1000 pessoas entre colonos e funcionários subalternos da Coroa e religiosos da Companhia de Jesus chefiados pelo Padre Manuel da Nóbrega. Inicialmente, Tomé de Souza e sua gente ocuparam a Vila do Pereira mas,logo foi construída a cidade do Salvador, primeira ação do Governador-Geral, para onde a população foi deslocada. Ainda durante o primeiro Governo-Geral foi criado o bispado de Salvador, o primeiro do Brasil que teve como titular o bispo D. Pero Fernandes Sardinha.
Em 1551 foi introduzido no Brasil o gado trazido de Cabo Verde e a pecuária aliou-se à cultura da cana e do algodão nas sesmarias concedidas por Tomé de Souza.

Segundo Governo

Duarte da Costa, segundo Governador-Geral, chegou ao Brasil em 13 de junho de 1553, trazendo mais alguns jesuítas como Jose de Anchieta. Este governo caracterizou-se pela desarmonia existente entre membros do governo, jesuítas e colonos. No entanto, foi no segundo Governo de Duarte da Costa que se efetuou a conquista do Recôncavo cujas terras férteis de massapé impulsionaram ainda mais a produção de cana-de-açúcar.

Seu filho Álvares da Costa destacou-se na guerra contra os índios que não aceitavam o domínio europeu, sendo formada neste governo uma tropa regular e paga usada nas batalhas de extermínio.

Terceiro Governo

No ano de 1557, Men de Sá veio para o Brasil e iniciou o terceiro Governo-Geral.

Sua administração durou quinze anos, contra sua vontade, pois solicitou sua volta para Lisboa, sempre adiada pelo rei de Portugal. Apoiou jesuítas na catequese de índios, mas ao mesmo tempo, promoveu o extermínio dos mesmos índios em guerras financiadas pelo seu Governo. Criou igrejas e concluiu a construção da Santa Casa de Misericórdia, mas suas ações não se limitaram a capitania da Bahia. Men de Sá foi responsável pela expulsão dos franceses que se encontravam desde 1555 na Bahia de Guanabara.

Trouxe para o Brasil 336 escravos africanos e moças órfãs para casarem-se com os colonos, agradando muito a igreja que condenava as ligações entre os europeus e as índias.

Com a morte de Men de Sá, foi Governador o Ouvidor-geral e Provedor-Mor, Fernão da Silva.

O quarto Governador-Geral, Luís Vasconcelos, faleceu antes de chegar à Bahia. Após esse fato, o rei bipartiu a administração das terras do Brasil e nomeou dois governadores. D. Luiz de Brito e Almeida, Governo-Geral de Bahia, Ilhéus, Pernambuco e terras mais ao norte; e D. Antonio de Salema, Governo-Geral de Porto Seguro, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Vicente e terras mais ao Sul. Nesta nova situação houve a nomeação de muitos para ocuparem os cargos do Governo, agora em dobro.

Em 12 de abril de 1577 Lourenço da Veiga foi nomeado Governador-Geral e as terras e a administração foram unidas outra vez. Esta medida reduziu os gastos e o número de funcionários em muito aumentados por causa da divisão.

Até a invasão dos holandeses foram os seguintes os Governadores-Gerais:

Diogo Lourenço da Veiga, D. Manuel Teles de Menezes que governou até 1587, D. Francisco de Sousa, Diogo Botelho que governou de 1602 a 1608, Diogo de Menezes quando se dividiu outra vez o Brasil em Norte e Sul, Gaspar de Souza e Luís de Sousa.

Em 1624, durante o Governo de D. Diogo de Mendonça Furtado, Salvador foi invadida pelos holandeses, vencendo a resistência dos moradores que fugiram da cidade, mas voltaram diversas vezes para atacar e cada vez mais enfraquecer os holandeses. Em 1625, após um ano de dominação holandesa da cidade e transcorridas diversas batalhas, encontraram-se os holandeses isolados, sem comida e cansados. A chegada da ajuda dos espanhóis determinou definitivamente a rendição e saída dos holandeses da Bahia. Houve posteriores tentativas de tomar de assalto a cidade de Salvador, mas todas sem sucesso.

No século XVIII a estrutura político-administrativa voltada para os interesses da colônia e orientada pelo pacto colonial conflitava com os interesses da população da capitania da Bahia. Por tais motivos houve diversos conflitos entre colonos e a colônia que, no quadro nacional da história, não receberam devida valorização, mas que tiveram grande importância para a organização dos colonos em direção à Independência. Alguns conflitos não apontavam a condição de colônia como promotora da difícil situação em que se encontravam os colonos do Brasil, outros apontavam a independência como única maneira de resolver a situação. Desta forma, alguns importantes movimentos foram precursores da independência da Bahia e do Brasil.

Em 1711, o Motim do Maneta, o Motim de Dezembro e o Levante do Terço Velho apresentavam uma insatisfação da população para com a situação de domínio e pobreza em que se encontrava a cidade de Salvador e a capitania de modo geral. O primeiro e mais importante protestava contra os valores dos artigos importados e contra os altos impostos que eram obrigados a pagar para manter a segurança da colônia e as regalias da metrópole. No entanto, ainda não se cogitava na Bahia as idéias de separação entre Brasil e Portugal.

De 1794 a 1798 ocorreu o movimento denominado Conjuração dos Alfaiates, Inconfidência Baiana, Sedição dos Mulatos entre outros nomes. O movimento caracterizou uma das mais importantes manifestações anticoloniais do estado e do país no século XVIII. Influenciados pelas idéias iluministas, os baianos queriam a República na qual todos seriam iguais perante a lei, não importando a cor, e o poder originasse do povo. No estado em que mulatos e negros predominavam em número, apenas os europeus possuíam o poder de decisão e ocupavam os altos cargos. Em contrapartida, eram os mulatos e pobres os mais cobrados pela coroa que exigia cada vez mais e maiores impostos.
Este movimento caracterizou-se por 11 boletins chamados sediciosos, manuscritos e colocados em pontos centrais da cidade em 12 de agosto de 1798. Os revolucionários reivindicavam a igualdade de direitos sem distinção de cor e equivalência entre colônia e metrópole, exigindo que o porto de Salvador fosse aberto para que o Brasil pudesse comercializar livremente com todos os países do mundo e não apenas com a metrópole.

Denúncias contra os sediciosos levaram a prisão e morte de diversos baianos em várias ações de repressão.

A abertura dos portos do Brasil e da Bahia se deu em 28 de janeiro de 1808, através do chamado Decreto de Abertura dos Portos do Brasil e permitiu livre comércio dos baianos com todos os povos do mundo. Isso aconteceu quando o Príncipe D. João já estava refugiado no Brasil, fugindo dos franceses que tomaram Lisboa. Segundo diversos autores como Alencar (1981) a atitude do rei nada tinha a ver com as exigências dos brasileiros, mas sim com as exigências da Inglaterra que desejava explorar o crescente mercado das colônias portuguesas. Portugal devia à Inglaterra a proteção que recebeu durante a fuga para o Brasil. A presença da família real no Brasil proporcionou à Bahia outros benefícios como a criação da Escola Médico-Cirúrgica, posterior Faculdade de Medicina da Bahia, a criação da Companhia de Seguros Comércio Marítimo e a resolução favorável à existência de indústrias na colônia.

O movimento chamado Pronunciamento de 10 de fevereiro de 1821 marcou a adesão da Bahia ao movimento liberal-constitucionalista instalado na Europa e que determinou a Revolução Constitucional de 1820 no Porto e em Lisboa. Na Bahia, ele foi liderado de dentro da prisão do Aljube, pelos prisioneiros políticos da Revolução de 1817, que foi pouco expressiva na Bahia, mas importante em Recife. O movimento evidenciava o desejo dos baianos em participar da formação da Constituição que regiria os destinos de Portugal e suas colônias e que poderia permitir a instituição de direitos para a Capitania e deveres para a metrópole.

Na Câmara Municipal de Salvador, por determinação do governador Conde de Palma pressionado pelos baianos, foi constituída a Junta Provisória de Governo da Província da Bahia, composta de representantes das principais camadas da sociedade: igreja, comércio, exército e agricultura. Embora liberal, o movimento pela Constituição ainda adotava compromisso de subordinação a Portugal, o que desagradava muito os revolucionários de 1821 que clamavam a independência. Isso ficou claro quando a junta jurou obediência à Coroa e à igreja católica como também à constituição que a Corte elaborasse.

Deputados baianos foram escolhidos para participarem, na Corte, da elaboração da Constituição para o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, por eleição indireta no dia 3 de setembro de 1821. Ao chegarem a Portugal os deputados baianos encontraram a discussão para a futura Constituição em pleno andamento colocando-os em divergência imediata com os portugueses. Os representantes brasileiros (baianos, pernambucanos e paulistas) reivindicavam autonomia para o Brasil enquanto os portugueses desejavam retrocesso de concessões como a abolição do livre comércio.

Vários movimentos e manifestações a favor da Independência da Bahia e do Brasil ocorreram em Salvador e no Recôncavo, tendo sido sempre reprimidos pelos Portugueses que ainda tinham o poder militar na Bahia. As Câmaras das cidades do Recôncavo proclamavam a formação de um centro do Poder Executivo no Brasil exercido por D. Pedro, já aclamado no Rio de Janeiro como Defensor Perpétuo e Constitucional do Brasil. Mas a força militar impedia as sessões da Câmara e reprimia com prisões as manifestações do povo.

Aos poucos os conflitos tornaram evidente a aproximação da independência não só do estado mas de todo o Brasil. Alguns fatos importantes antecederam a independência como a Batalha do Pirajá travada na área de Cabrito-Campinas-Pirajá foi a maior demonstração de resistência militar pela independência no estado da Bahia. Foram oito horas de luta armada entre os soldados baianos e os portugueses que resultou na morte de vários soldados brasileiros e lusitanos.

Vários episódios de batalhas e conflitos antecederam o episódio conhecido pelo nome de Libertação da Bahia. Ilhados na cidade do Salvador, os portugueses sofriam com a falta de gêneros básicos para a sobrevivência como comida e água. Todo o entorno da cidade já estava ocupado pelos soldados baianos que impediam os portugueses de saírem da cidade ou de entrar nela qualquer pessoa ou suprimento. No dia 1º de julho, cansados, com fome e sede, os portugueses começaram a abandonar a cidade. Embarcaram em navios mercantes ou de guerra soldados, oficiais e mesmo as famílias portuguesas, na maioria comerciantes que permaneceram na cidade.

Enfim, no dia 2 de julho de 1823 entrou na cidade o exército brasileiro, marcando a Independência da Bahia. Neste dia consolidou-se a separação política entre Brasil e Portugal, deixando de haver um ponto de apoio para os portugueses vindos da Europa para lutar pela Monarquia portuguesa. A partir de então, um período Monárquico Constitucional Unitário instalou-se também na Bahia. Em 2 de julho o príncipe D.Pedro tornou-se Imperador da Bahia, mas na verdade, já era Imperador do Brasil desde 12 de outubro de 1822 e já havia uma Assembléia Constituinte no Rio de Janeiro. Como no episódio da Carta Constitucional Portuguesa, a Bahia estava atrasada, desta vez no processo de independência do país.

As províncias ainda não estavam sob um só governo executivo, mas com a Independência da Bahia, a independência e a consolidação do Império do Brasil tornou-se viável. No entanto também nesse período alguns conflitos e manifestações importantes ocorreram na Bahia.

Ordens do Imperador D.Pedro, como a transferência do Sargento-Mor Silva Castro, importante oficial na luta pela Independência da Bahia, para o Rio de Janeiro, evidenciavam uma tendência do império em centralizar as decisões e as ações no Rio de Janeiro. Algumas províncias como Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará desligaram-se do poder executivo central estabelecido no Rio de Janeiro, era a Confederação do Equador que pretendia liberar as províncias das ordens do Rio. A Bahia se dividia entre obedecer irrestritamente o Imperador ou desligar-se como outros estados do Nordeste do país.

O levante do Terceiro Batalhão (Periquitos), batalhão do qual fez parte Maria Quitéria nas lutas pela independência, evidenciava o descontentamento dos baianos em relação à administração do Imperador D.Pedro I e chegou a beirar uma guerra civil entre adeptos e contrários à Monarquia. Já haviam então rumores sobre a República.

Para manter a submissão da Bahia à sua autoridade, D.Pedro I visitou rapidamente a província e, com discursos e audiências, tentou manter os ânimos frios e controlados, dando a falsa impressão de preocupação com os interesses baianos. No entanto, sua política tendenciosa que beneficiava Portugal e a Inglaterra com o mercado e o dinheiro brasileiros, só causava desconfiança e temor na população baiana.

Nos anos seguintes de 1829, 1830 e 1831 sucederam-se diversos conflitos entre brasileiros e portugueses, principalmente na cidade de Salvador e nas vilas de Cachoeira e Santo Amaro. Havia, então, um sentimento anti-lusitano que estimulava que estimulava conflitos dentre os quais aquele conhecido como Mata-Maroto, que resultou na substituição do Presidente da Província da Bahia e do Governador das Armas, todos portugueses e sua substituição por representantes brasileiros, baianos.
Estes conflitos passaram com algum tempo, a criticar diretamente ao regime Monárquico Constitucional Unitário instalado no Brasil e passaram a sugerir o federalismo que permitiria autonomia às províncias, antes que D.Pedro I tentasse reunificar Portugal e Brasil num novo Reino Unido, como desconfiavam alguns baianos.

A Revolução Federalista de 1832 e 1835 definiu-se com a deposição de D.Pedro em 7 de abril de 1831. No entanto, apenas em 1832 foi proclamada a Federação da Província da Bahia e formado um Governo Provisório o qual não se subjugava mais às ordens do Rio de Janeiro e pretendia reformular leis contrárias ao federalismo na Bahia após a formação de uma Assembléia Constituinte Legislativa Provincial. Tais transformações, no entanto, não tinham o aval do governo da província baiana que reprimiu o movimento com armas e prendeu os federalistas mais importantes, enfraquecendo o movimento.

No entanto, o movimento federalista não findou na Bahia. Ao contrário, deu vazão à revolução conhecida como Sabinada, de grande importância para a história da Bahia e do Brasil. Era um movimento federalista que pedia revisão da Constituição de 1824 e a descentralização política sem desligar-se do poder executivo central no Rio de Janeiro. A Sabinada já apresentava inclinação ainda pouco definida para a República.O levante de 7 de novembro marca o começo do aspecto militar da Sabinada, já que a revolução teve início muito antes com a publicação das idéias revolucionárias. O levante do Forte de São Pedro de 7 de novembro de 1837 iniciou uma série de conflitos que culminaram com a formação de um governo baiano desligado do Governo Central do Rio de Janeiro. No entanto, o movimento baiano não estimulou a adesão de outras províncias e ainda desagradou aos grandes proprietários do Recôncavo que investiram contra os chamados sabinos.

Sem apoio a Sabinada limitou-se ao estado livre e independente da Bahia até a maioridade de D.Pedro II, que corria sérios riscos de perder o trono.

Segundo Tavares (1987) o movimento tornou-se contra a submissão administrativa e política da Bahia ao Rio de Janeiro, a centralização. No entanto, não se opunha a Monarquia Constitucional nem ao Príncipe D.Pedro II. Era contra o trabalho escravo, mas não obteve conquistas neste campo.

Teve seu fim com a retomada do controle de Salvador pelo exército do Imperador, controle esse que perdurou até depois da maioridade de D.Pedro II, evitando maiores conflitos tão comuns na província. A Sabinada foi a última revolução armada da Bahia até o movimento republicano no qual ressurgem ideais federalistas.

Segundo alguns autores, o federalismo de Rui Barbosa foi o que mais caracterizou e animou a política na Bahia, na última década do Império. Neste fim de século, um dos maiores problemas do Brasil era encontrar um regime que garantisse a unidade do país. Embora D.Pedro tentasse manter o Império a todo custo, seus esforços e dos monarquistas só popularizavam as idéias republicanas e a proclamação da República torna-se cada vez mais próxima.

Organizaram-se no estado três partidos políticos, dois antigos o Conservador e o Liberal e um novato e pouco representativo, o Republicano que embora defendesse as idéias republicanas, tinham pouca representação no estado e pouco decidiam sobre os rumos da República a ser proclamada.

Apenas na noite de 15 de novembro de 1888, Salvador conheceu os acontecimentos, que na manhã do mesmo dia, levaram a Proclamação da República no Rio de Janeiro. A notícia foi recebida através de um telegrama de Rui Barbosa, então Ministro da Fazenda do Governo Provisório. Além de informar sobre as novas da capital do país, o telegrama nomeava Manuel Victorino Pereira o Governador do Estado da Bahia.

Houve em Salvador demonstrações desaprovação e reprovação por parte dos representantes políticos e militares da Bahia. Os nomes importantes da cidade se dividiram entre os que aderiam a República e os que juravam obediência à Coroa e ao Rei, como faziam há anos.

Ironicamente, era do Comandante das Armas Marechal Hermes Ernesto da Fonseca, irmão mais velho do Marechal Deodoro da Fonseca, chefe militar do movimento republicano no Rio de Janeiro, a liderança do movimento monarquista em Salvador. Hermes da Fonseca, junto ao ex-presidente da Província da Bahia, decidiu continuar acatando as ordens do Imperador e desacatar as ordens do Governo Provisório, que já havia indicado um Governador para o recém proclamado Estado da Bahia.
Líderes militares como Christiano Buys do grupo dos republicanos, tentavam adesão suficiente da população e dos representantes políticos para a Proclamação da República na Bahia, promovendo diversos pequenos conflitos na cidade do Salvador. O Governador nomeado Manuel Victorino recusou-se a se envolver nesses conflitos e, mesmo sem sua presença, mas já com o apoio do Marechal Hermes Ernesto da Fonseca o Coronel Buys proclamou a República na Bahia somente no dia seguinte a proclamação no Rio de Janeiro. Ocorreu as seis horas da arde do dia 16 de novembro de 1888, no Forte de São Pedro.

Mas o estado permaneceu sem governador até o dia 18 de novembro quando, às 13 horas Virgílio Damásio foi empossado Governador do estado da Bahia. Damásio, que teve papel atuante no processo da proclamação, permaneceu no cargo até o dia 23 de novembro quando, em obediência ao Governo Provisório, passou o cargo ao médico e político Manuel Victorino. Por ter sido sempre liberal, Victorino surpreendeu a todos quando se uniu a políticos do Partido Conservador, propondo mudanças no sistema de saúde e educação, desagradando os liberais e os republicanos. Esses últimos promoveram o movimento que levou a renúncia de Victorino no dia 23 de abril de 1890.

Ao contrário do que imaginaram os republicanos, a renúncia resultou na posse do Marechal Manuel Hermes Ernesto da Fonseca como governador e na ascensão do grupo conservador do qual participavam Luiz Vianna, José Marcelino de Souza, José Gonçalves Dias e Satyro de Oliveira Dias.

Isso demonstrou que os liberais e os conservadores, grandes fazendeiros do Recôncavo e do Sertão, realmente detinham o poder, enquanto os novatos republicanos eram pouco representativos. Os liberais e os conservadores elegeram a maioria dos representantes da Assembléia Constituinte e o primeiro governador republicano do Estado da Bahia, José Gonçalves da Silva.

Em novembro de 1891, devido às manifestações de insatisfação de alguns setores da sociedade baiana, o Marechal Deodoro da Fonseca dissolveu o Poder Legislativo demonstrando autoritarismo que foi renegado e combatido na Bahia, principalmente por representantes militares, sempre envolvidos nos movimentos revolucionários e contra o governo do estado.

Após diversas mudanças no governo do estado, finalmente o Partido Republicano da Bahia conseguiu consolidar-se e eleger, em 1892, por voto direto, o Governador Joaquim Manuel Rodrigues que comandou o Estado até 1896, quando o Conselheiro Luiz Vianna tornou-se Governador.

Foi no mandato de Luiz Vianna que ocorreu o episódio conhecido na história do Brasil como Guerra de Canudos. O povoado de Canudos surgiu sob a liderança religiosa do beato Antonio Conselheiro, Antonio Vicente Mendes Maciel, um homem exótico,de cabelos e barba sempre grandes e vestindo uma longa bata azul. A cidade abrigava uma grande quantidade de fiéis, ex-escravos, índios e todo tipo de excluídos que encontravam apoio e acolhida em meio às difíceis condições do sertão nordestino. O lugarejo foi formado na Região da Serra do Cambaio e do Vale do Rio Vasa-Barris. A comunidade se fundamentava em ideais puramente religiosos, mas acabou representando ameaça à Monarquia por rejeitar ordens legais como o casamento civil e o registro em cartório dos recém-nascidos. Além disso, a comunidade cresceu muito rapidamente e não podia ser controlada pelas autoridades republicanas, pois o povo de Belo Monte só obedecia as ordens do beato Conselheiro, espécie de porta-voz de Deus na terra. Conhecendo os perigos de não seguir o regime, Belo Monte sempre esteve preparada para possíveis ameaças de invasão já que possuía um grande arsenal de rústicas armas de fogo.

Várias tentativas de acabar com a suposta conspiração monarquista instalada em Canudos realizadas pelas forcas armadas brasileiras falharam, mas exterminaram aos poucos os 25 mil habitantes do povoado. Em 5 de outubro de 1897. uma quinta expedição conseguiu exterminar os moradores do povoado que ainda resistiam heroicamente. Em 22 de setembro de 1897 morreu Antonio Conselheiro.
Segundo Antonio Olavo (site) a guerra de Canudos foi um massacre sem precedentes no Brasil de milhares de pessoas que nada tinham de subversivas e apenas defendiam sua fé e seus princípios. Durou um ano e mobilizou mais de 10 mil soldados de 17 estados brasileiros culminando com a destruição irracional da cidade.

De 1896 a 1912 diversos fatos acompanharam as mudanças de governadores da Bahia. Foi no mandato de Severino Vieira, sucessor de Luiz Vianna, que o Partido Republicano da Bahia se dividiu e originou o Partido Republicano Dissidente no mandato seguinte, o de José Marcelino de Souza. Os dissidentes apoiavam J.J. Seabra para a sucessão no governo do estado, sendo chamados de seabristas.

Na primeira década do século XX as dissidências em questões políticas eram evidenciadas nos diversos grupos que surgiram, cujos nomes mostravam a preferência para a sucessão no governo do estado. Eram os vianistas, severinistas, seabristas cujas divergências levaram ao grave episódio do bombardeio de Salvador no dia 10 de janeiro de 1912, no mandato de João Ferreira de Araújo Pinho. Segundo Tavares (1987), forcado a renunciar, o governador Araújo Pinho transmitiu o governo a seu substituto legal, Aurélio Vianna, que foi recusado pela maioria da Câmara Estadual. Em represália, o prédio da Câmara foi fechado e a capital do estado transferida para Jequié. Houve briga judicial que favoreceu os vereadores, no entanto, a decisão legal de liberar a Câmara não foi aceita pelo Governo do estado. A reação militar foi imediata e no dia 10 de janeiro, os Fortes de São Pedro e do Barbalho canhonearam o centro da cidade por 4 horas causando grandes estragos às construções do local.

O bombardeio causou não só muitas confusões e estragos para a população, mas também, muitas confusões políticas em todo o estado e até para o Presidente, Marechal Hermes da Fonseca. Na Bahia resultou na eleição para Governador do Estado vencida por J.J. Seabra, dezesseis dias depois do bombardeio.

Economia

A economia da Bahia colonial foi, desde o início, voltada para o mercado externo, respondendo às exigências da metrópole e do comércio europeu. Segundo Tavares (1987) entre outros autores, era uma economia de exportação, mercantil, agrária e escravista.
Desta maneira o país produziu e consumiu somente o que interessava ao comércio externo, mais especificamente o de Portugal, funcionando como produtor de matéria-prima e consumidor de produtos manufaturados e escravos. À colônia não cabia a produção industrial ou literária, podia apenas comprar da metrópole o que era proibida de produzir. Segundo Alencar (1981) fábricas, imprensa e circulação de livros sempre sofreram sérias restrições. A colônia não podia manufaturar ou industrializar e só podia comercializar com a metrópole e nunca concorrer com ela. Segundo Junior (1994) a economia brasileira era complementar a portuguesa devendo suprir as necessidades desta última. Foi o Brasil uma colônia de exploração por mais de três séculos.A base da economia na Bahia colonial foi, sem dúvida, o trabalho escravo que sustentou todos os ciclos econômicos até o século XIX, enriquecendo cada vez mais os senhores brancos. Além de ser mão-de-obra sem custo, o escravo era importante mercadoria humana e dava grandes lucros aos traficantes portugueses, que venderam nos séculos XVI, XVII e XVIII dois milhões de escravos negros no Brasil, segundo Alencar (1981).
A escravidão também permitia a existência de trabalho livre e assalariado dos que desempenhavam funções de vigilância dos escravos ou que exigiam conhecimento técnico. Permitiu rápido enriquecimento dos portugueses moradores do Brasil e para comerciantes de vários países europeus como França e Itália.
O porto de Salvador, único para a exportação de produtos baianos teve grande importância e intenso movimento durante o desenvolvimento da economia no estado voltada para a exportação para a Europa, África e outras capitanias.
Dividida em ciclos, a economia da Bahia e de toda a colônia caracterizou-se como extrativista, inicialmente. Já nas primeiras expedições exploradoras das terras brasileiras nos anos de 1501 e 1503, os portugueses detectaram na mata atlântica do litoral baiano a ocorrência, em abundância, do chamado pau-brasil. O pau-brasil é uma madeira de interior cor de brasa (daí o nome Brasil) da qual se extraía um corante muito usado na indústria têxtil européia e de valor comercial para a construção civil e naval.
Desde a descoberta do pau-brasil na colônia, o rei de Portugal estabeleceu monopólio da metrópole sobre sua exploração, cobrando impostos sobre os lucros obtidos com a comercialização do produto.
Os portugueses transportavam pau-brasil para a Europa e lucravam muito com esse comércio, mas eram os índios que cortavam as árvores, rachavam as toras e transportavam o pau-brasil até as feitorias criadas no litoral para armazenar o produto. Além disso, eram também os índios que carregavam o navio e trocavam seu trabalho e o produto por facas, espelhos, tecidos e outros objetos de irrisório valor comercial para os Portugueses. Assim se estabeleceu na Bahia e em todo o Brasil a troca direta de produto por produto chamada escambo.Os franceses também fizeram escambo com os índios e exploraram largamente o pau-brasil do litoral da Bahia, desde a região de Rio Real até a Baía de Todos os Santos.
Ainda no século XVI, a produção do açúcar foi escolhida para iniciar a exploração permanente do Brasil. O açúcar era muito raro e procurado na Europa e Portugal já o produzia em suas ilhas no atlântico quando decidiu implantar a cultura da cana no Brasil. As terras baianas do tipo massapé mostraram-se perfeita para o cultivo da cana-de-açúcar e o clima do Nordeste beneficiava seu desenvolvimento. A grande quantidade de mão-de-obra necessária para a derrubada da mata, preparação do solo, plantio e colheita da cana e processamento do açúcar veio da África como escravos negros.Os escravos eram responsáveis por todo tipo de trabalho nas fazendas chamadas engenhos. Plantavam e colhiam cana, processavam o açúcar nos engenhos, trabalhavam na casa grande e em outros serviços.
A cana era plantada em grandes latifúndios como monocultura e processada nos engenhos das fazendas. Em 1585 a Bahia já possuía 35 engenhos de açúcar, no fim do século XVIII já eram 260 espalhados pelo Recôncavo. Em 1834 havia na Bahia 603 engenhos de açúcar e em 1875 já eram 892, a vapor, hidráulico ou de tração animal.
No final do século XIX, o açúcar, embora apresentando sinais de declínio, ainda cumpria importante papel na economia da Bahia a ponto de serem construídos engenhos centrais que permitiam maior eficiência e controle da produção no estado.
O açúcar produzido no Brasil era vendido aos holandeses que por sua vez o distribuíam para toda a Europa, sendo a Bahia um dos principais produtores do gênero para exportação. Quando os holandeses foram expulsos do Brasil, deixaram de comercializar o açúcar brasileiro. Financiaram a produção do açúcar nas Antilhas que passaram a concorrer com o Brasil pelo mercado europeu. Graças à larga experiência holandesa na distribuição do produto , o açúcar antilhano logo dominou o mercado europeu e promoveu a decadência da economia açucareira na Bahia e no Brasil.
Ao lado do açúcar, o algodão e o fumo desempenharam importante papel para a economia das mais importantes regiões baianas.
Desde o século XVI a Bahia produziu e exportou algodão em menor quantidade que o açúcar, já que o comércio, externo para o qual toda a colônia devia servir, interessa-se menos pelo algodão, no momento. A produção do algodão teve seu auge no século XIX, período em que a Inglaterra passou a comprar a matéria-prima do Brasil. No entanto. Após reatar relações comerciais com suas ex-colônias americanas produtoras de algodão, a Inglaterra ao deixar de comercializar com a Bahia, promove um enfraquecimento na produção do algodão que volta a atender apenas o mercado português e o mercado interno.
Em relação ao fumo, a Bahia manteve de estável a crescente a produção que não era direcionada ao mercado europeu, mas sim ao africano. As regiões chamadas tabuleiros (Cruz das Almas e Cachoeira, por exemplo) produziram e ainda produzem fumo que, à partir de do século XVIII melhorou muito em qualidade na tentativa de atingir o mercado europeu.
Segundo Tavares (1987) diversos outros produtos foram produzidos e exportados pela Bahia nos séculos XVI,XVII e XVIII como couros, aguardente, mel, diversos grãos e produtos da mandioca.Ainda no século XVIII, também ouro e pedras preciosas foram extraídas das terras baianas, mais precisamente de Jacobina, Rio de Contas, Araçuaí e Tucambira. No entanto, Portugal preferiu concentrar a produção de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais, a ponto de fechar minas de ouro da Bahia, mesmo havendo no século XVIII cerca de 2000 mineradores no estado.
O gado introduzido no Brasil ainda em 1551 por Tomé de Souza passou, no século XVI, a concorrer com as plantações de cana pela terra do litoral. Durante muito tempo, a criação de gado ateneu às necessidades das populações locais, era a criação para consumo próprio. Com o crescimento dos rebanhos a extensão de terra do litoral baiano tornou-se pequena; ou se plantava cana ou se criava gado. O açúcar ainda era muito lucrativo e os interesses do mercado externo se sobrepunham em importância. A criação de gado chegou a ser proibida no litoral e banida para o sertão de todo o Nordeste. Dessa forma, a pecuária migrou em direção ao interior do estado da Bahia adaptando-se ao clima semi-árido e abrindo os caminhos dos sertões. A pecuária teve grande importância para a exploração do interior do estado, através das marchas das boiadas ligou regiões distantes e promoveu a fundação de cidades importantes como Feira de Santana. Segundo Alencar (1981) foi assim a colonização do sertão, promovida pelos vaqueiros que viajavam cada vez mais em direção ao centro do estado e do país.
Cidades como Vitória da Conquista, Xique-Xique, Juazeiro, Feira de Santana, Barreiras e Alagoinhas foram importantes pontos de pecuária do estado e grandes beneficiadores do couro que também era artigo de exportação do estado.
No século XIX a economia baiana ainda tentava responder às exigências do mercado internacional produzindo e exportando produtos primários. No entanto, diversificou um pouco seus produtos sendo ainda o açúcar o mais importante para a exportação, seguido do fumo, diamantes, café, couros, aguardente, cacau e algodão.
Sem dúvida, o comércio tornou-se no século XIX a principal atividade econômica da Bahia, principalmente de sua capital Salvador. Os grandes comerciantes baianos eram exportadores muito importantes para a economia de todo o país, mas a cidade abrigava outros tipos de comércio. Havia desde bancos até vendedores ambulantes, passando pelos lojistas dos mais diversos artigos e produtos que a sociedade baiana exigia.
Até a abertura dos portos eram os luso-brasileiros que dominavam o comércio , após a abertura dos portos os comerciantes estrangeiros passaram a dominar o comércio baiano, permanecendo na mão dos luso-brasileiros o papel de intermediário, lojista ou traficante de escravos negros. Os ingleses se destacaram em setores como a exportação e a importação de produtos nos portos baianos e brasileiros de modo geral, nos grandes comércios, nas casas bancárias e nas indústrias.
Instalou-se em 13 de novembro de 1840 a Associação Comercial da Bahia, segundo Mattos (1961). Segundo Mattoso (1992), na tentativa de forjar seu próprio sistema bancário, os grandes comerciantes da Bahia criaram em 1817 o Banco da Bahia, que operava como filial do primeiro Banco do Brasil e em 1834 foi fundada a Caixa Econômica do Estado da Bahia. O New London and Brasilian Bank Limited foi o mais importante banco estrangeiro desse período, segundo Tavares (1987). Após esse período houve grande queda de exportação dos produtos baianos o que tornou o comércio apático e estagnado por algum tempo.
No início do século, em 1808 foi cancelada a proibição da atividade industrial na colônia e na Bahia já havia a permissão para a construção de uma fábrica de recipientes de vidro. A partir de então a industrialização na colônia inicia lento processo de implantação e desenvolvimento.A industrialização na Bahia iniciou-se efetivamente em 1841 com a instalação de fábricas de tecidos grosseiros de algodão que chegaram ao número de sete fábricas passados 32 anos. Os ingleses se tornaram peças importantes e até fundamentais neste processo já que monopolizavam a experiência e o conhecimento em relação às máquinas utilizadas. Na Bahia da mão-de-obra escrava foram os estrangeiros os donos ou técnicos das industrias nascentes, sobrando para os brasileiros apenas o trabalho "pesado".
Foram se estabelecendo lentamente na Bahia no século XIX, mais especialmente na Segunda metade do século indústrias, estradas de ferro, companhias de navegação , seguros e outros. Em setembro de 1887 foi fundada uma fábrica de chapéus com cerca de 250 operários. Em 1865 foi fundada uma farmácia e drogaria. Em 22 de fevereiro de 877 iniciou-se a industrialização do sal na Bahia.
Em 1879 a construção da Estrada de Ferro Bahia e Minas começou a permitir melhor escoamento da pequena produção das indústrias nascentes no estado . Em 1899 existiam 1248 quilômetros em tráfego, 30 anos depois eram 2669 - Bahia ao São Francisco; Central; santo Amaro; Nazaré; Bahia-Minas; Centro-Oeste e Ilhéus-Conquista. Havia também a preocupação com a construção de estradas de rodagem iniciadas no começo do século X. Houve também a ampliação do transporte por via marítima que alcançava cidades do Recôncavo como Nazaré São Félix e Itaparica, portos do litoral atlântico e Alagoas e Sergipe. Em relação ao transporte urbano, em 1897 trafegou o primeiro bonde elétrico pelas ruas de Salvador. Os dois planos inclinados junto com o Elevador Lacerda , inaugurado em 08 de dezembro de 1872 já ligavam a cidade baixa e a alta diminuindo o percurso e o tempo de deslocamento. Logo outros serviços começaram a ser desenvolvidos no estado e em 2 de maio de 1884 instalou-se o serviço de telefone em Salvador.Segundo Garcez (1975), a Bahia viveu um período de relativa prosperidade do fim do século XVIII até o primeiro quartel do século XIX, graças ao estímulo trazido pelas guerras de independência das colônias inglesas na América que deixavam livre o mercado com a Europa. Também a revolução industrial permitia melhorias na exportação de algodão e as guerras napoleônicas que desarticularam a produção das colônias francesas e inglesas, aumentavam a demanda externa de produtos brasileiros tradicionais na exportação. Em 1900 e 1901 o açúcar europeu de beterraba já representava 68% da safra mundial.
No entanto, a partir das lutas pela independência , o Brasil começa a sofrer restrições do mercado internacional o que reduziu muito as exportações de açúcar, algodão e fumo. Já no fim do século XIX, a febre da industrialização sem planejamento, mergulhou o país inteiro em uma das maiores crises da história que promoveu numerosas falências. A própria libertação dos escravos em 1888 provocou grande declínio na economia baiana, ainda baseada no trabalho escravo e no tráfico.
A Bahia viveu então um período de estagnação na indústria e no comércio , principalmente em função da crise da sua principal riqueza, o açúcar. Esse fator ocasionou queda dos preços e afetou a balança comercial baiana. A exportação do fumo, ligada ao tráfico, foi afetada pelo fim oficial da escravidão no Brasil e pela concorrência da América do Norte que reatou as ligações comerciais com a Europa.
O cacau e o café surgiram então como alternativas que poderiam substituir o açúcar o algodão e o fumo na economia exportadora baiana. Diferente dos estados do sudeste, os solos e o clima da Bahia não favoreceram a produção do café. No entanto, o cacau encontrou no sul da Bahia solo e clima adequados para o seu desenvolvimento e produção, demonstrando ser um eficiente substituto do açúcar.
Segundo Garcez (1979), o cacau foi introduzido na região em meados do século XVIII, importado do Pará. De 1890 a 1930 o cacau se fixa como importante produto de exportação e monta-se toda uma estrutura de produção e comercialização do cacau e seus derivados. A partir de 1926 além do Porto de Salvador, o Porto de Ilhéus passou a exportar o cacau baiano. A crise da economia mundial de 1929 afetou a exportação de todos os produtos voltados ao mercado externo, inclusive o cacau. Outros problemas, como pragas, aliados à crise promoveram a criação do Instituto do Cacau em 8 de junho de 1931.
No século XIX e XX alguns produtos andaram lado a lado com o cacau na exportação como cana, mandioca, feijão, milho, fumo e diversas frutas e verduras. Merece destaque a cultura do algodão, mamona e sisal já que é a Bahia um dos maiores produtores regionais. A pecuária ainda é uma das mais importantes atividades econômicas do sertão baiano e em parte do Recôncavo. A Bahia é um dos principais estados produtores de leite do Nordeste do Brasil.Segundo CEPLAB (1978), na última década do século XIX, a economia baiana registrou um surto de empreendimentos industriais que marcou o nascimento da indústria fabril no Estado, independente da economia açucareira.
No entanto, as décadas seguintes apresentaram, sob todos os aspectos, sintomas de estagnação econômica. Até os anos 50 do século XX a economia estadual não permitia a evolução em direção à industrialização.
A grande mudança se deu a partir de 1949 com a implantação da PETROBRÁS que iniciou a exploração dos campos de petróleo do Recôncavo e a instalação da Refinaria Landulfo Alves (Mataripe). Posteriormente a criação da SUDENE e incentivos fiscais promoveram fortalecimento da industrialização de toda a região Nordeste. Tudo isso junto provocou grandes repercussões na economia baiana e importantes melhorias como a mudança na estrutura do parque industrial, na composição do valor de transformação industrial, na formação da renda interna total e industrial e no próprio espaço econômico.
O CIA (Centro Industrial de Aratu) e distritos industriais como e de Subaé, Ilhéus, Jequié entre outros iniciaram a industrialização do Recôncavo e de parte do interior do estado. A implantação da indústria petroquímica na Bahia, concentrada na Região Metropolitana de Salvador, supriu as necessidade4s de material da indústria química baiana em franco desenvolvimento. A chamada indústria de transformação é ainda de grande importância para a economia baiana e seu desempenho esteve em 1998 superior ao da indústria de transformação nacional.
Segundo Análise & Dados, até o início dos anos 60, o comércio baiano concentrou-se na exportação. Foram produtos como açúcar, algodão, farinha e por último o cacau que reinaram na produção do estado, nada preocupado com o mercado interno. Com a industrialização o comércio tornou-se mais dinâmico. No entanto, um estado de apatia permanece instalado na economia baiana e o número de vendas, exportações e empregos nunca voltou a ser como nos períodos de ouro da exportação.
A partir de 1967 o turismo na Bahia ainda pouco representativo, passou a ser explorado de forma planejada. Foram criados órgãos especializados em turismo como a BAHIATURSA, a CONBAHIA e a EMTUR, e projetos de valorização dos recursos naturais e do Patrimônio Histórico passaram a ser implantados lentamente. Hoje a indústria do turismo é uma das maiores geradoras de divisas do estado, focalizando cidades litorâneas como Salvador, Ilhéus e Porto Seguro entre outras.Por fim, nos anos 90, grandes transformações na economia brasileira promoveram oscilações na economia do estado da Bahia que se mantém hoje dividida entre turismo, as indústrias de transformação e automobilísticas.

Educação

Durante mais de dois séculos, a educação jesuítica foi a única responsável pelo ensino brasileiro e teve grande importância para o sucesso da colonização, convertendo e convencendo índios e negros a obedecerem ao Deus católico representado na terra pelo Rei de Portugal.

Os jesuítas chegaram à Bahia em 1549 junto com Tomé de Souza e se dedicaram ao catecismo e à prática do magistério. De Salvador, onde primeiro se estabeleceram, espalharam-se por várias regiões do estado da Bahia e de todo o país.

Ainda no início da colonização, para viabilizar a catequese dos índios, os jesuítas criaram escolas de ler e escrever para que os índios pudessem entender e absorver a cultura e a religião portuguesas. Precisavam antes ser compreendidos para serem depois seguidos. No entanto, não eram apenas os índios os objetivos dos jesuítas. Segundo Piletti (1996), os jesuítas responsabilizaram-se pela educação de todos: índios, negros escravos, colonos e filhos dos senhores de engenhos usando, em cada caso, artifícios particulares para atrair e manter as pessoas em catequese constante, mascarada nas lições escolares.

Além das aulas de ler e escrever, eram oferecidos, na época da colônia três cursos: o de Letras, o de Filosofia e Ciências e o de Teologia e Ciências Sagradas considerado superior e destinado à formação de sacerdotes. Concluídos esses cursos, aquele que desejasse continuar os estudos teria que fazê-lo na Europa, o que poucos podiam fazer.

Segundo Vilhena (1969), na Bahia, não só em Salvador, mas em todas as vilas da capitania e seus distritos ministravam-se sete classes de instrução. Na primeira classe estudava-se gramática portuguesa, na segunda língua latina, sintaxe e sílaba na terceira, na quarta retórica, na quinta matemática, filosofia na sexta e na sétima teologia moral. Além disso, filosofia era ensinada nos conventos como o do Carmo e o São Francisco.

Segundo Romanelli (1996) o ensino ministrado pelos jesuítas era alheio às necessidades da colônia e pouco interessava ou servia a sociedade agrária e comercial da época. Preocupava-se com a aprendizagem da cultura geral e básica européia sem valorizar as diferenças da colônia.

Com o tempo, a catequese que levava a educação jesuítica aos índios e negros perdeu importância para a educação dos filhos da elite, educação essa que excluía o povo e que perdurou como modelo durante muitos anos no país. Logo a educação dos jesuítas passou a dar status e a formar os representantes políticos da colônia. Como somente os filhos dos abastados tinham acesso a essa educação, somente a eles cabiam status e poder.

Ao serem expulsos do país em 1759, os jesuítas mantinham escolas de ler e escrever, de ensino secundário e missões na Bahia e em outros estados do Brasil. Foi o Marquês de Pombal que, considerando o trabalho dos jesuítas com os índios como de oposição a Portugal, suprimiu as escolas jesuíticas em toda a colônia.

Para instalar a educação voltada aos interesses da Coroa e não da igreja, foram criadas as chamadas aulas régias de Latim, Grego e Retórica, as quais Segundo Piletti (1996), nem de longe chegaram a substituir o eficiente sistema de ensino organizado pela Companhia de Jesus.

Segundo Romanelli (1996), seguiu-se a partir de então, mais de 10 anos de desmantelo na educação em todo o país, que caracterizaram o início da ação do Estado como promotor e responsável pela educação dos brasileiros. Vale comentar que estudos continuaram a ser ministrados nos seminários em paralelo às desordenadas e ineficientes aulas régias.

A atuação dos jesuítas na Bahia não de diferenciou do restante do país e sua expulsão acarretou para a educação no estado o mesmo atraso que para o Brasil.

As intervenções do poder público da província baiana sobre a educação datam do século XIX, muito tempo depois da expulsão dos jesuítas, significando um longo tempo de desordem e falhas na educação dos baianos. É somente com o Ato Adicional de 1834 (emenda à Constituição de 1824) que as Assembléias Legislativas Provinciais começam a legislar sobre as questões do ensino elementar e médio.

Segundo Tavares (1987), inicialmente foi criado na Bahia o Liceu Provincial no antigo Convento da Palma em 1837, com o intuito de substituir as aulas régias e a Escola Normal para formar professores do ensino elementar, que só começou a funcionar em 1842 numa casa da antiga Rua do Colégio.
No Liceu matricularam-se 323 alunos nas disciplinas: Filosofia Racional e Moral; Aritmética; Geometria e Trigonometria; Geografia e História; Comércio; Gramática Filosófica da Língua Portuguesa; Eloqüência e Poesia; Análise e Crítica dos Clássicos; Desenho; Música; Gramática Latina; Gramática Grega; Gramática Francesa e Gramática Inglesa. A de junho de 1841 estabeleceu exames para o ingresso nos cursos de Grego, Gramática Filosófica, Belas Leras, Filosofia, Retórica, Geografia que concediam diploma de Bacharel em Letras.

A Escola Normal da Bahia tinha duas cadeiras: Cadeira de Ensino Mútuo e Cadeira de Leitura, Caligrafia e Gramática Filosófica da Língua Portuguesa e aulas eram ministradas em dois turnos, um para homens e outro para mulheres. O currículo da escola de meninos compreendia instrução moral e religiosa, as artes de ler, escrever e contar bem como os elementos de pesos e medidas nacionais. Ao currículo das meninas acrescentava-se costura, bordado e outros conhecimentos que auxiliasse a economia doméstica.

Em 1842 foi criado na Bahia o Conselho de Instrução Pública que tinha as mais diversas atribuições em relação à educação em todo o estado. No Conselho foi criado o cargo de Diretor-geral dos Estudos, cargo que se tornou importante e foi ocupado por representantes responsáveis por grandes modificações para melhoria do sistema de ensino nascente na Bahia. Um exemplo foi Casemiro de Sena Madureira que em 1851 reivindicava a formação de escolas industriais, a profissionalização do Magistério e a inclusão da Pedagogia no currículo normal. Em 1854, Sena Madureira idealizou o Jardim da Infância como uma cadeira para meninos de 4 a 8 anos regida sempre por uma professora que, para o diretor-geral, tinha ao contrário dos homens, candura e amor suficientes para o trabalho.

A reforma de 1881 criou duas escolas normais em Salvador, em regime de externato: a Escola Normal de Homens e a Escola Normal de Senhoras. Nelas a Pedagogia já era disciplina e compreendia a História da Pedagogia, Organização Escolar, Educação Moral, Física e Intelectual e Legislação do Ensino. A reforma criou um currículo do ensino elementar no qual entrava, pela primeira vez, elementos de ciências naturais. Também se referia ao ensino particular afirmando que qualquer cidadão brasileiro ou estrangeiro poderia abrir escola ou outro estabelecimento de ensino primário e secundário, e exercer o magistério. Por fim, a reforma criou o Conselho Superior.

Da reforma de 1881 (Reforma Paranaguá) até as proximidades da República, pouco se acrescentou de importante com relação a inovações pedagógicas na formação dos professores. Foram muito frequentes, no entanto, as medidas para melhorias físicas dos estabelecimentos de ensino no estado, como a fundação de bibliotecas, museus pedagógicos, livrarias e periódicos nas escolas normais. Segundo Telles (1989), com a Proclamação da República em 1889, as instituições oficiais de ensino sofreram alterações e as leis que regiam o ensino na antiga Província foram reformadas pelo Governo Provisório no Estado da Bahia.

Em 1890 foi apresentado um Regulamento que significava a primeira lei da instrução pública da Bahia após a Proclamação da República, elaborada pelo baiano Satyro Dias. A lei organizou o Conselho Superior de Ensino idealizado ainda na Monarquia e extinguiu as escolas normais, criando em seu lugar o Instituto Normal da Bahia para servir de modelo às instituições semelhantes a serem criadas nos outros municípios do estado. Sua finalidade era a formação de professores em turmas mistas, em regime de externato, num curso de quatro anos de duração. No Instituto, a Pedagogia compunha-se de História da Pedagogia, Metodologia de Ensino e Prática de Ensino. No começo do século XX duas escolas normais de mesma linha organizacional foram instaladas no interior do estado, nas cidades de Barra e Caeteté, mas foram extintas em 1903.

Algumas importantes instituições de ensino foram inauguradas ainda no século XIX como a Faculdade de Direito em 1891, O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia em 1894, a Escola Politécnica e o Conservatório de Música em 1897.

Nas duas primeiras décadas do século XX algumas mudanças foram registradas pela história. Por exemplo, o curso normal variou entre 3 e 4 anos de duração, o Instituto Normal passou a ser chamado Escola Normal outra vez e os diplomados do curso receberam o título de Professor Primário.
Em 1918 o ensino público foi dividido em Ensino Primário ministrado em escolas isoladas ou em grupos escolares, e Ensino Secundário ministrado no Ginásio da Bahia. Cabia ao Governador a direção superior do ensino, auxiliado por secretários, conselheiros, diretores entre outros, mas manteve-se o Conselho Superior de Ensino.

A reforma de 1925 é também chamada Reforma Góes Calmom por ser ele o Governador do Estado da Bahia quando as idéias de Anísio Teixeira orientaram tão grande mudança na organização da educação estadual. Segundo Telles (1989), nenhuma lei anterior sobre o ensino superou a nº 1846 de 14-08-1925, que dispõe com detalhes sobre os princípios da gratuidade e obrigatoriedade do ensino. A lei deixa claro que o ensino no Estado da Bahia "tem por objetivo a educação física, intelectual e moral do indivíduo de modo a formar homens aptos para a vida em sociedade e cidadãos úteis à comunhão nacional."

Abrangendo o ensino geral, a reforma previu o ensino infantil, primário elementar e superior, o complementar, normal, o secundário, o profissional e o especial, organizando a sucessão escolar até a formação completa do indivíduo.

No curso normal houve grande mudança no currículo, que destinava 3 anos de preparo científico e 1 de preparo profissional para o magistério. Para tanto, escolas de aplicação foram criadas junto aos estabelecimentos permitindo conhecimento prático ao futuro professor. Essa organização tornou o curso de formação do professor completo, já que se preocupava tanto com a formação profissional como intelectual do indivíduo, ou seja, proporcionava a educação integral dos alunos.

A reforma de Anísio Teixeira inovou também a administração e a fiscalização das instituições criando a Diretoria Geral da Instrução e reformando o Conselho Superior de Ensino. Em relação à fiscalização criou cargos e formas de acompanhamento das instituições e dos profissionais de ensino que melhoraram em muito a qualidade dos seus serviços. Até então, na maioria dos casos, a qualidade do serviço desses profissionais era considerada ruim pela própria sociedade baiana que contava muitas vezes, com profissionais nada qualificados para o magistério. Na verdade esse quadro se repetiu em todo país após a expulsão dos jesuítas, que deixaram vazias as vagas de professor.

Segundo Telles (1989), sobre a administração específica das unidades escolares a lei dispunha sobre ano letivo e regime de aulas, matrícula e exame, diploma, prêmios e deveres do aluno do curso normal. Dispunha também sobre a administração das escolas de aplicação, a escola normal superior, cursos de férias, escolas normais das cidades do interior, ensino secundário e profissional de artes e ofícios. Esta última oferecia cursos de mecânica e eletrotécnica, artes gráficas, artes decorativas, atividades domésticas, atividades rurais, atividades comerciais e outras.

A criação dos cursos de artes e ofícios demonstrou a preocupação de Anísio Teixeira com a formação profissional do jovem, com a qual as leis anteriores não se ocuparam. Para os idealizadores da reforma a educação integral, física e moral do indivíduo era tão importante quanto à formação profissional. Antes da reforma e como resíduo da educação jesuítica, a educação preocupava-se com a formação intelectual do indivíduo, apoiado no conhecimento europeu. Depois da reforma a educação na Bahia passa a ter características próprias, uma educação baseada nas necessidades da sociedade baiana e formadora de indivíduos engajados às exigências de um estado em crescimento comercial e industrial.

A lei 1846/25 instituiu também uma Escola de Belas Artes oficial e cursos para crianças ditas anormais, mostrando a inédita preocupação do Estado com a educação de todos os grupos da sociedade baiana, embora fosse genuinamente voltada para a habilitação profissional do jovem. As idéias de Anísio Teixeira, concretizadas na reforma de 1925 marcaram profundamente a história da educação baiana e modelaram o sistema de ensino e suas instituições.

Em 1998 foi entregue a sociedade os Parâmetros Curriculares Nacionais que segundo o então Ministro da Educação e do Desporto "tem intenção de ampliar e aprofundar um debate educacional que envolva escolas, pais, governos e sociedade e dê origem a uma transformação positiva no sistema educativo brasileiro... foram elaborados procurando, de um lado, respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país e, de outro, considerar a necessidade de construir referencias nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras. Com isso, pretende-se criar condições, nas escolas, que permitam aos nossos jovens Ter acesso ao conjunto de conhecimento socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania."

Foram produzidos diversos documentos disponibilizados em séries de livros por disciplina, distribuídos às escolas de todo o país e aos professores de cada disciplina, quando remetidos em quantidade suficiente para o número de professores. Esses documentos foram elaborados em versão preliminar e posteriormente analisados e modificados por um grupo seleto de educadores, especialistas em educação, instituições governamentais e não-governamentais, que resultou na atual versão que deverá ser revista periodicamente, a partir de acompanhamento e avaliação de sua implantação. Vale ressaltar que tais revisões periódicas ainda não aconteceram, dois anos depois.

É fato que durante esses 500 anos de história, pouco tem sido feito para a aplicação eficiente de tantas idéias, leis e documentos tão bem elaborados pelas autoridades do nosso país e estado. A desvalorização dos profissionais da educação, principalmente dos professores, a falta de recursos, o mau uso ou mesmo desuso dos recursos disponíveis, a super valorização da aprovação em detrimento da qualidade do conhecimento adquirido são apenas alguns dos muitos fatores que impedem a instauração da qualidade superior no ensino público do Estado da Bahia. Antes de grandiosos projetos e monumentais obras, é necessária uma forte e consciente avaliação do ensino púbico, cujas conclusões sejam simples, aplicáveis e eficientes, e valorize sim, a qualidade do ensino público e não as quantidades em números estatísticos que ele possa oferecer.

Em relação a estrutura física e humana da educação pública na Bahia, são apresentados alguns dados retirados de SEI Educação 1999. Em 99 a Bahia contava com 41.798 estabelecimentos de ensino entre públicos federais, estaduais e municipais, além dos particulares sendo 13.526 destinados à Educação Infantil e Classes de Alfabetização, 27.173 ao Ensino Fundamental e 1.102 ao Ensino Médio. Havia mais de 4.593.225 alunos matriculados nesses estabelecimentos dentre os quais 385.944 na Educação Infantil e Classes de Alfabetização, 3.702.727 no Ensino Fundamental e 504.554 no Ensino Médio. Contava com 173.463 docentes dos quais 25.550 destinavam-se à Educação Infantil e Classes de Alfabetização, 125.871 ao Ensino Fundamental e 22.042 ao Ensino Médio. O estado contava e ainda conta com apenas quatro Universidades Estaduais que abrigavam, em 1999, mais de 16.000 estudantes universitários, a UNEB, a UEFS, a UESC e a UESB. Em 99 foram matriculados 9.717 alunos nos cursos de suplência em todo o estado, curso que visa acelerar os estudos daqueles estudantes que não se enquadram nos moldes do ensino regular como, por exemplo, idade avançada.

Vale lembrar que o índice de reprovação e abandono da escola é muito grande no estado da Bahia principalmente por causa das péssimas condições financeiras em que vivem esses alunos. Uma grande quantidade desses estudantes deixa a escola para trabalhar completando a renda familiar que ainda assim é insuficiente para manutenção digna da vida. Os avançados programas de matrícula usados no estado nada podem contra a dura realidade em que vivem esses alunos e suas famílias, por isso os números apresentados pelo estado em suas pesquisas não retratam a realidade fielmente, pois não podem controlar os motivos pelos quais os estudantes fracassam na escola ou desistem dela.

Manifestações Folclóricas

Foi em 1842 que apareceu, pela primeira vez, em forma impressa, a palavra folclore. Foi William John Thoms, sob pseudônimo de Ambrose Merton quem sugeriu em artigo publicado na revista Atheneum que o termo folclore substituísse o que se chamava na Inglaterra de Antiguidade Popular ou Literatura Popular.

Desde então, a palavra folclore recebeu diferentes significados que têm sido modificados e melhorados. Alguns especialistas dizem ser a palavra folclore, um dos termos mais utilizados no mundo. No entanto, considera-se folclore como a expressão da maneira de pensar, sentir e agir de um povo.

A Bahia é, sem dúvida, um dos estados que mais valoriza as manifestações públicas do folclore. São festas religiosas ou não, procissões, jogos, danças e representações que exteriorizam as crenças e os costumes de um povo alegre e muito místico. A grande maioria dessas manifestações são religiosas ou tiveram origem em práticas de fé católica ou africana. Mas, existem também aquelas que apresentam os costumes dos escravos, a resistência contra a escravidão, a cultura indígena e muito mais.

As manifestações folclóricas funcionam como berço da arte e cultura baiana, pois permitem a criação e recriação das suas formas de representação. Em contrapartida, a cultura produzida a cada dia alimenta, enriquece e renova as antigas tradições, tornando-as cada vez mais atrativas.

Não se pode pensar somente em Salvador quando se fala em manifestações folclóricas baianas pois em todo o estado pode-se encontrar, ao longo do ano, particulares formas de manifestação da alma do povo baiano. Se Salvador tem o Carnaval e a Festa do Bonfim, Cachoeira tem as Damas da Boa Morte, Santo Amaro tem o Maculelê, Armação tem a Puxada de Rede, Uauá tem o Reisado, São Félix tem o Samba-de-Roda...

Sem dúvida, a Bahia é o grande berço brasileiro da cultura popular e o seguro recanto das tradicionais manifestações folclóricas que caracterizam e contam a história deste país.

Ternos e Ranchos - Os Reisados

São manifestações religiosas que louvam e homenageiam o nascimento de Jesus, acontecendo do Dia de Reis, 6 de janeiro. É formado por "pastores" e "pastoras" que caminham pelas ruas cantando e dançando com o destino simbólico a Belém. O Terno é tido como uma manifestação mais séria e conta com a participação de representantes de classes favorecidas como estudantes. Seus integrantes desfilam vestidos de indumentárias prateadas e brancas com detalhes azuis ou vermelhos. Nos Ternos a música é acompanhada por instrumentos de sopro com ritmos de pandeiros e castanholas.

O Rancho é integrado por pessoa modestas e simples, por isso tende a ser mais liberal e alegre. Seus integrantes vestem-se como os dos Ternos, mas adicionam-se à música violas e violões.
Os chamados donos dos Ternos ou Ranchos são os seus organizadores, pessoas de reconhecido respeito e consideração na comunidade. São eles que escolhem os participantes do evento, planejam o desfile, dirigem os ensaios, providenciam o figurino, arrecada fundos para a realização da festa e tudo o mais.

Os Ternos e Ranchos são comuns na capital Salvador, mas no interior do estado tudo é chamado Reisado e mantém todas as características dos Ternos e Ranchos da capital. O Reisado é realizado em 45 municípios baianos como manifestação oficial, principalmente na zona rural, como em Alagoinhas, Canavieiras, Nazaré, Rio Real, Jequié e Santo Amaro.

Bailes Pastoris

Como os Reisados, os Bailes Pastoris,também chamados Presépios, exaltam o nascimento de Jesus, mas diferente daqueles, constituem-se de dramatizações de episódios religiosos como a Anunciação, o Nascimento de Jesus e a Visita dos Pastores. São realizados na frente dos presépios das igrejas na Noite de Natal enquanto se espera a Missa da Meia-Noite. Seus integrantes vestem-se de pastores, cantam e louvam o nascimento de Cristo como faziam os pastores da Idade Média.
Os Bailes Pastoris são tradicionais em Salvador onde há um grupo de jovens do bairro da Lapinha que se apresenta todos os dias 25 de dezembro na Praça da Sé. No interior do estado destacam-se cidades como Sapeaçu , Gentio do Ouro, São Félix, São Francisco do Conde e outros municípios que preservam uma manifestação religiosa tão antiga.

Puxada-de-Mastro

É uma manifestação religiosa característica das cidades do sul e Extremo-Sul do estado da Bahia.
A Puxada-de-Mastro consiste na retirada de um grande e pesado tronco de uma mata o qual é conduzido (puxado) até um pedestal onde é fixado. Na maioria dos casos, o tronco é grande o suficiente para exigir que dezenas de homens juntem suas forcas para locomovê-lo. O esforço é parte do sacrifício que se faz ao santo homenageado.

O mastro hasteia o estandarte do santo homenageado na ocasião e antecede a realização de missas solenes encerrando as novenas de orações. Em Olivença nas proximidades de Ilhéus, o mastro sustenta o estandarte de São Sebastião que é fixado na frente da Igreja de Nossa Senhora da Escada, no mês de janeiro. Em Porto Seguro a homenagem é para São Brás.

Queima do Judas

Esta é uma manifestação folclórica muito comum em cidades do Recôncavo e do Semi-Árido baianos como Cachoeira e Feira de Santana, embora aconteça em todo o estado como em Salvador, Lauro de Freitas, Dias D'Ávila. É realizada no Sábado de Aleluia desde o período da colonização, trazido pelos portugueses da Europa onde já era repetida.

Consiste na queima de bonecos de palha ou pano que representam o traidor de Jesus Cristo, seu discípulo Judas. Isto é feito em praça pública ou nas ruas da cidade e assistido por grupos de pessoas que festejam o castigo do traidor com risos e brincadeiras .

Hoje, em cidades do interior da Bahia acontecem disputas entre grupos que confeccionam o boneco. São adicionados fogos de artifício aos bonecos que proporcionam belos espetáculos pirotécnicos e a eles são atribuídos nomes e culpas de personalidades mal vistas , principalmente políticas, que tornam o evento um momento de desabafo da população humilde e explorada do estado.

Antes da queima do Judas lê-se um testamento que fala sobre as pessoas presentes e que participam do evento e sobre a própria personalidade que o boneco representa.

Após a queima do Judas pode haver escolha do melhor boneco, de acordo com a qualidade do testamento e do espetáculo de fogos de artifício.

Samba de Roda

Segundo Vianna (1981), o Samba de Roda começou, provavelmente nos tempos da colonização, quando os negros, na sua primeira pausa para descanço, dançaram à moda da sua terra. O ritmo contagiante do samba marcado por palmas e passos excitantes fez com que, aos poucos, o samba saísse da senzala e fosse para as ruas e até para a casa dos brancos. Hoje, o Samba de Roda é freqüente nos mais diversos festejos baianos como o carnaval, por exemplo.

A dança do samba de roda em si é considerada simples, mas é preciso muito "molejo" para realizar com os pés ou passos marcados com as mãos. Existem passos específicos da roda que representam diversas atividades do cotidiano, como, por exemplo, o corta jaca paço no qual o sambista representa com os pés o ato de cortar uma jaca, retirar o "visgo" e recolher o caroço. Cada ação é representada por um conjunto específico de movimentos, sempre marcados pelas palmas dos outros sambistas. Outros exemplos são o miudinho, amarrado, barra-vento e sapateado.

A dança acontece quando ao som de samba forma-se uma roda com um sambista ao centro que apresenta sua ginga, dançando por algum tempo. Logo, ele desafia um componente da roda com um sinal como a umbigada ou um simples aperto de mão, que toma o seu lugar no meio da roda. Tudo transcorre ao som de marimbas, violas, pandeiros, ganzás, atabaques, berimbaus e outros instrumentos de percussão. Mas, o samba não deixa de acontecer por falta de instrumentos, pois o improviso é muito freqüente e até mais original. Na falta de instrumentos, facas arranham a borda de pratos, colheres são batidas como castanholas, pentes e papeeis são soprados e tampas de panelas são batidas com as pontas dos dedos, enquanto o tirador lança frases simples que são cantadas repetidamente.

O Samba de Roda é uma tradição em cidades como Cachoeira, Candeias, Santo Amaro, Muritiba e outras.

Presente de Iemanhá

Manifestação repetida todo dia 2 de fevereiro não em só em Salvador, mas em várias cidades baianas que têm contato direto com o mar ou com rios como Nazaré, Valença, Maragogipe, Itaparica e Vera Cruz.

O Presente de Iemanjá é uma manifestação religiosa que homenageia a deusa das águas para o candomblé, Iemanjá, no catolicismo, Nossa Senhora da Conceição. Na festa os fiéis oferecem presentes à deusa como espelhos, perfumes, jóias e flores para o alto mar em balaios enfeitados que são levados por embarcações de pescadores. O momento da saída para o mar é de festa , rezas, fogos de artifícios, palmas e manifestações dos "santos" apresentadas pelos fiéis.

Diz a crença popular que, se no dia seguinte seu presente não estiver na praia, sua oferenda foi aceita e seus pedidos serão atendidos.

Em Salvador, a manifestação tornou-se mais conhecida e adquiriu características próprias. Além dos fiéis, das rezas e manifestações,existem hoje turistas e foliões que se juntam aos milhares na Enseada do Rio Vermelho para observar as homenagens e dançar ao som dos trios elétricos. A Oferenda de Iemanjá tornou-se uma das principais festas populares da cidade do Salvador atraindo turistas e renda aos mercados formal e informal envolvidos no evento.

Puxada de Rede

Mantida em poucas praias do litoral baiano, a Puxada de Rede é uma importante manifestação folclórica do estado com traços da cultura negra africana. Ela permite a integração entre os pescadores e a preservação de traços africanos na cultura do povo que vive do mar, já que toda a atividade da pesca realizada é acompanhada de danças, mímicas, poesias e cantos dos pescadores africanos trazidos para o Brasil.

A Puxada de Rede acontece entre outubro e abril, época em que os peixes procuram as águas quentes e rasas do litoral nordestino. Nessa época a pesca é realizada na beira da praia com uma gigantesca rede de arrasto e não em alto amor, como de costume. A armação e a puxada da rede são comuns em praias como Armação, Chega Nego e Carimbamba.

A grande rede usada leva ate mil metros de corda e cinco meses de trabalho para ficar pronta. Para manipulá-la são necessários 63 homens, 1 chefe , 1 mestre de terra , 1 mestre de mar, 20 catadores, 20 homens do mar e 20 homens da terra. A rede aberta liga barcos em círculo na água e homens na terra que, assim que encontram peixe puxam a rede à praia.

Cantos simples são repetidos como aqueles cantados pelos antepassados negros e alguns até se referem à terra de origem como Aruanda. A última canção entoada é sempre o canto de saudação à rainha do mar em agradecimento pelo sucesso da puxada.

Maculelê

Todo dia 2 de fevereiro é dia de Maculelê em Santo Amaro da Purificação, Recôncavo baiano. Segundo Maria Muti (1978), o Maculelê é uma mistura de dança e luta de origem negra e escrava eu tem em Santo Amaro o seu reduto e em mestre Popó o único mestre conhecido.

Vários estudiosos contestam a sua origem achando alguns que se trata de uma dança indígena, outros de luta negra.

Mestre Popó, mais antigo lutador de Maculelê reconhecido popularmente, diz que o Maculelê chegou da costa da África junto aos escravos, até os engenhos de Santo Amaro. Era uma mistura de luta e dança, defesa e ataque misturados aos cantos negros que disfarçavam a luta. Uma forma de treinar a luta sem despertar a desconfiança dos feitores, que só enxergavam a dança.

Para o Maculelê são usados três tambores (atabaques), agogô e ganzá que produzem o ritmo negro da dança. Um par de grimas é usado por cada lutador e u único pelo chefe, todos feitos de madeira polida. Cada integrante usa uma gurita na cabeça (touca de ponta), lenço no pescoço, camisa comum ao estilo africano, calca igual e pés descalços. Usam o rosto muito pintado de negro com a boca exageradamente vermelha e cabelos brancos de farinha de trigo.

A dança é composta de leves volteios e um levantar de pés sincronizados às batidas das grimas (a autora escreve diversas vezes esgrimas). Entre as músicas que acompanham poucas são aquelas usadas nas senzalas que eram cantadas em línguas africanas. Muitas foram criadas em Santo Amaro pelos filhos e seguidores de mestre Popó. Cada uma delas tem um significado e um objetivo Há música para sair às ruas, para a chegada ao local da apresentação, para saudação a Princesa Isabel pela libertação dos escravos, para Virgem Santa, par recolher doações chamada Ritual do Vaqueiro e aquela que tornou-se a que mais caracteriza o Maculelê: "sou eu, sou eu, sou eu Maculelê, sou eu..."
Mundialmente conhecido, o Maculelê de facão é rejeitado pelo grupo tradicional de Santo Amaro e foi criado por um dos filhos do mestre Popó, que também rejeita a adulteração da luta e justifica dizendo que se os negros possuíssem facões para lutar o Maculelê na senzala, não haveria escravidão. Teriam conquistado a liberdade à lâmina.

Marujada

Esta manifestação folclórica negra comum a várias cidades baianas como Paratinga e Jacobina data de mais de duzentos anos e embeleza as festas de santos católicos como São Benedito, protetor dos negros.

Segundo uma lenda de Jacobina, a marujada foi introduzida na região por duas famílias negras escravas descendentes de reis africanos, chamadas Caranguejo e Capim unidas a outra chamada Labatut. A exibição ligada a santidades católicas foi uma forma de mostrar cantos e danças negras discriminadas pela população e uma maneira de participar da vida social da cidade.

Durante a Marujada os indivíduos daquelas famílias pareciam importantes oficiais da marinha admirados por toda a comunidade, sendo na verdade simples trabalhadores braçais. Esse sentimento é ainda hoje motivador da realização da marujada nas cidades baianas onde a festa é uma tradição.
Hoje, como há anos atrás, o cargo de mestre, o mais importante da marujada é vitalício e só pode ser exercido por membros das famílias Caranguejo ou Labatut. Outros cargos como contramestre, general e capitão são distribuídos pelos interessados de toda a cidade.

Todo o grupo desfila em uniforme branco e azul, a farda que padroniza os componentes da Marujada. Os marujos e os calafates vestem-se com o mesmo uniforme, mas o mestre, o contramestre, o capitão e o general, cargos de destaque, usam outro uniforme e acessórios que diferenciam cada um deles e conferem destaque durante o desfile da Marujada.

O desfile é acompanhado de várias canções simples que se referem ao mar, a batalhas, a cidades portuguesas e ao santo homenageado. Ao final do desfile uma apresentação teatral encerra a comemoração e um último canto dá adeus ao dia festivo.

Findo o festejo, cada marujo volta a sua vida normal e ao anonimato, já que são integrantes das classes menos favorecida das cidades. Voltam para preparar a Marujada do ano seguinte, ainda mais atraente.

Boa Morte

A Irmandade da Boa Morte, formada por 22 mulheres negras devotas de Nossa Senhora da Boa Morte e dos orixás do candomblé, preserva em Cachoeira uma das mais antigas e solenes tradições do estado da Bahia. São mais de 200 anos de confraria, uma organização de leigos totalmente ligada a igreja católica, mas sem influencia direta de autoridades religiosas como padres.

Segundo as irmãs da Boa Morte, a confraria surgiu nas senzalas dos engenhos da Barroquinha, bairro antigo de Salvador. No início, eram três ou quatro mulheres negras escravas que se reuniam escondidas nos porões das senzalas ou cantos das casas grandes para discutir meios para libertar ou alforriar escravos. Por terem mais liberdade de locomoção, era mais fácil para as mulheres realizarem reuniões, o que pode explicar o fato de a irmandade ser constituída somente de mulheres.

A devoção a Nossa Senhora da Boa Morte nasceu com a confraria e residiu na igreja da Barroquinha até que a irmandade se transferiu, no início do século XX para a cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano. A crença católica retrata o desejo de libertação que a morte proporciona e que era esperada em vida pela libertação dos escravos.

A Boa Morte é uma manifestação folclórica que expressa claramente o sincretismo religioso tão presente na Bahia. As irmãs são devotas de a Nossa Senhora da Boa Morte e ao mesmo tempo fazem parte do candomblé como filhas e mães -de -santo. É necessário que se conheça e pratique o candomblé e o catolicismo para participar da confraria, mais que isso, é preciso que se saiba separar os dois.

A irmandade é uma sociedade fechada com hierarquia e cerimônias reservadas somente às irmãs. No entanto, há celebrações públicas como as procissões em agosto, mês da Assunção de Maria. É exemplo aquela em que as irmãs vestem sua tradicional beca, um traje de luxo composto de saia rodada plissada, pano de costa de veludo preto forrado de cetim vermelho ou roxo, jóias, adereços de ouro e chinelas brancas de couro.

Lavagem do Bonfim

A devoção ao Nosso Senhor do Bonfim teve seu início em 1745, quando foi esculpida a imagem semelhante àquela encontrada em Portugal e colocada no altar da Igreja de Nossa Senhora da Penha, em Itapagipe.

Em 1754, graças aos esforços da Irmandade devotado santo, foi inaugurada a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim no sítio chamado Monte Serrat que recebeu no dia 24 de junho do mesmo ano a imagem do Senhor do Bonfim.

A devoção ao santo fez milhares de fiéis e romeiros se dirigirem ao Bonfim durante todo o ano e em 1804 foi instituída a esta católica ao senhor do Bonfim realizada em janeiro, com ápice no 2º domingo depois do dia de Reis. Os rituais católicos duravam 10 dias, começando com novenas e encerrando com a realização de missas solenes e campais.

Anos depois, integrantes do candomblé, mães e filhas-de-santo, relacionando Oxalá, pai dos orixás, a Senhor do Bonfim, começaram a realizar uma das manifestações religiosas mais famosas da Bahia, a lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim. Desde então, na segunda-feira seguinte ao domingo do Bonfim, as baianas vestidas a caráter saem da Igreja de Nossa senhora da Conceição da Praia e caminham 8 km até a sagrada colina, onde está a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, sempre acompanhadas de uma multidão de fiéis que inclui autoridades políticas e personalidades famosas. Carregando nos ombros potes ornamentados cheios de água de flores, ao chegarem a colina sagrada, as baianas lavam e enxugam com panos rendados as escadarias e o adro daquela que elas dizem ser a casa de Oxalá, entoando cânticos e rezas em línguas africanas.

São comuns os banhos de pipoca e as manifestações de "santos" em plena escadaria da igreja, sem intervenção alguma das autoridades católicas que respeitam e convivem com os rituais do candomblé.

Durante muitos anos a festa pagã foi acompanhada por trios elétricos, muita bebida e comida, no entanto, em 1998 os trios elétricos foram proibidos por descaracterizar a religiosidade da festa.

Bumba-Meu-Boi

O Bumba-meu-boi é uma das mais ricas manifestações folclóricas de dança dramática do Norte e Nordeste do Brasil. É chamado boi-bumbá na Amazônia, boi-surubim e boi-de-mão em Santa Catarina, mas mantém em todos os casos as mesmas características. Faz parte do ciclo natalino de festas religiosas e representa a morte e ressurreição de um animal como aconteceu com Cristo.

A dança e a coreografia consistem na sucessão de vários fatos relativos ao boi, contendo sempre um personagem que celebra a vida do animal. No meio da apresentação o boi é ferido e morto por um vaqueiro, mas ressuscita no fim. O fato é de grande alegria e regozijo dos participantes e expectadores e inicia uma festa com muito forró.

A principal personagem da festa é o boi feito de uma armação de madeira coberta de couro, veludo vermelho, azul ou preto bordado com vidrilhos, miçangas e linha dourada. Se o boi é pobre é coberto por chita ou outro tecido estampado. As outras personagens se vestem como vaqueiros e o povo sertanejo, com arminho, colete de veludo colorido e chapéu de couro.

O Bumba-meu-boi é muito comum nas cidades do sertão e do semi-árido baianos e acontece em cidades como Salvador onde existe um grupo que revive todos os anos os folguedos da festa. Outras cidades do Interior do estado como Amargosa, Canavieiras, Itambé e Cravolândia realizam a festa.

Festas Juninas

Festa de São João, São Pedro e Santo Antonio são as mais alegres e populares manifestações folclóricas do Nordeste do Brasil. Embora sejam realizadas em vários estados do país, é na região Nordeste que apresenta traços marcantes da cultura, do comportamento e a forma de pensar da população.

Além dos rituais religiosos em homenagem aos santos do mês de junho, acontece entre os dias 13 e 29 manifestações da cultura popular nordestina influenciadas pelo catolicismo, candomblé ou por particularidades regionais, carregadas de simbologia.

A fogueira acessa no dia 23 e os balões coloridos hoje condenados pelos inúmeros incêndios que já causaram têm explicação religiosa e católica. A fogueira relembra aquela acesa por Santa Maria na ocasião do nascimento de João Batista, filho de sua prima Isabel, pra avisar aos amigos sobre o acontecido. Os balões eram usados pelos católicos como mensageiros de pedidos aos santos no céu. A estas estruturas incandescentes eram presos os pedidos de cada um que eram levados ao céu nas noites de festa.

A comilança, no entanto, era um costume pagão de festejo e preparação para as grandes colheitas. No Nordeste, a influencia dos negros e índios na cozinha é evidenciada pelo uso das sementes, do coco, do milho, da mandioca, da cachaça muito comuns a culinária desses grupos humanos. Milho e amendoim cozidos, batatas, bolos, canjicas, pamonhas e pipocas são pratos indispensáveis a esta festa que tem pouca influencia européias.

A cachaça, o licor, as danças, o forró e a quadrilha são genuinamente sertanejos. São as marcas da cultura nordestina impressas na festa assim como o são o linguajar, o figurino, a simpatia e a cordialidade dos participantes da festa.

As festas juninas são comuns a todas as cidades da Bahia, desde Salvador com seu famoso Arraiá da Capitá até cidades com tradição nesses festejos como Santo Antonio de Jesus que oferece atrações como o trezenário de seu padroeiro Santo Antonio, até o Semaforró, uma semana de puro foro nas proximidades do dia 24 de junho. São famosos os festejos de Amargosa, Cruz das Almas, Senhor do Bonfim, Serrinha, Juazeiro e muitas outras cidades do interior do estado.

Capoeira

Segundo alguns autores a capoeira teve origem africana e chegou ao Brasil no século XVI, junto com os escravos negros. Segundo Oliveira (1989), alguns mestres de capoeira acreditam que foi uma criação africana no Brasil, mas a maioria afirma que veio da África onde recebia o nome de "jogo da zebra" e era praticada com violência. Fazia parte de um ritual de luta entre homens para conquistar meninas adolescentes.

Na senzala os negros disfarçavam a luta em dança, acrescentando a ela instrumentos musicais e movimentos cadenciados. Desta forma praticavam a luta sem levantar suspeitas podendo praticá-la depois contra os feitores e capitães-do-mato em fugas. O próprio nome capoeira surgiu do ato de essas lutas acontecerem em clarões da mata chamados capoeira, durante as fugas dos escravos.
Segundo relatos de antigos praticantes esta capoeira, luta dos tempos da escravidão é a capoeira angola, considerada a mais tradicional. Durante muito tempo a capoeira angola reinou como único estilo da luta, mas nos anos 30, o conhecido Mestre Bimba criou a capoeira regional a partir da capoeira angola. Segundo Oliveira (1989), há ainda a capoeira estilizada que surgiu a partir da regional, o que evidencia uma mudança constante na luta.

A capoeira angola e a regional apresentam algumas diferenças. A capoeira angola é de "ginga", mais abaixada, com jogo rasteiro, maior uso da esquiva e jogo de pernas, a maioria dos golpes é dado com os pés. A capoeira regional usa mais as mãos, o jogo é mais alto, luta-se com o corpo mais erguido e há golpes de braços, mãos e cabeça. Além disso, na capoeira regional existe uma espécie de graduação do indivíduo com sucessão de faixas que indica o grau de experiência e habilidade do capoeirista, algo semelhante às lutas marciais e diretamente influenciada por elas.

A capoeira angola valoriza os rituais e preceitos tradicionais da luta, prepara para a defesa, desenvolve a malícia, a calma e a rapidez do impulso. A capoeira regional é mais agressiva, valoriza o ataque e, por preocupar-se com a adequação da luta ao esporte, pouco valoriza os preceitos e extinguiu alguns rituais.

No começo do século passado a capoeira era praticada nos locais abertos em bairros afastados do centro, nas praças em ocasiões de festas populares e nos subúrbios de Salvador, além de cidades do interior como santo Amaro, Cachoeira e Nazaré. Durante muito tempo permaneceu recriminada e o capoeira, pessoa que joga capoeira, foi discriminado e temido como marginal. Com o passar do tempo a capoeira passou a ser aceita principalmente por causa da adesão de pessoas de classes favorecidas e por mulheres,no entanto o preconceito ainda existe. Mestres da luta como Pastinha e Bimba começaram a mostrar, aos poucos, que a capoeira é uma manifestação folclórica e artística, composta de belos e maliciosos movimentos, mas sem violência alguma.

A capoeira como mixto de luta e dança é sempre acompanhada por uma bateria, conjunto de instrumentos que produzem um som variado e peculiar formado por um berimbau gunga, um berimbau berro-boi, um berimbau viola, um ou dois pandeiros, um atabaque, um agogô, um reco-reco, e três caxixis, acompanhados de tradicionais ladainhas repetidas pelos lutadores.

Ao som dos instrumentos e das cantigas os capoeiras repetem tradicionais passos da luta como ginga, rasteira, negativa, rabo-de-arraia, tesoura, meia-lua e suas variações ou criam novos passos. A roupa usada no jogo nunca foi padronizada, mas predomina o branco nos dias especiais de apresentação acompanhado de sapato de bico fino e brinco de ouro na orelha.

Hoje, o capoeira veste calca pantalona de algodão e camiseta com ou sem sapato.

A capoeira é comum em todas as cidades do estado e , seja a tradicional angolana ou a regional, aprendida nas ruas ou nas academias, é sempre um espetáculo aos olhos, ouvidos e ao coração de quem é capaz de sentir a magia dessa filosofia de vida.